Subscribe

RSS Feed (xml)

Powered By

Skin Design:
Free Blogger Skins

Powered by Blogger

domingo, 15 de agosto de 2010

THEODORE ROETHKE: POESIA, POEMAS, OBRA POÉTICA



















sb: série poetas

THEODORE ROETHKE

O poeta Theodore Roethke (25 de Maio de 1908 - 1 de Agosto de 1963) é natural do Michigan, Estados Unidos da América. Em vida publicou títulos como Open House (1941), The Lost Son and Other Poems (1948), Praise to the End! (1951), The Waking (1953, Prémio Pulitzer para Poesia), Words For The Wind (1958), I Am! Says The Lamb (1961), Party at the Zoo (1963). Postumamente saiu The Far Field (1964, National Book Award) e outras colectâneas.

A sua poesia é comummente caracterizada pelo seu ritmo próprio e pelo imaginário natural, baseado nos elementos da natureza, aliado à sensualidade, beleza e mistério. Tem um cariz confessional ("Os meus segredos gritam forte./ Não tenho necessidade de língua./ O meu coração oferece hospitalidade,/ As minhas portas se abrem livremente." - do Poema "Casa Aberta”) e tais marcas aparecem ora num tom coloquial, ganhando uma outra vida ou vitalidade, ora num tom mais "surrealístico". Em algumas criações o poeta invoca a vida dos insectos e das plantas, e este factor é semi-autobiográfico, devido ao facto de a sua família possuir um negócio de flores.

Nos seus poemas, parece-me que os elementos naturais se apresentam como marcas da memória, como que se apropriando da sua mesquinhez e substituindo-a pela leveza de um tempo intemporal e por uma escolha ou opção, ainda que incompreendidas pelo sujeito poético. ("O elemento do ar era incontido./ O ímpeto do vento rasgou as folhas ternas / Projectando-as em confusão para a terra. / Esperamos as primeiras gotas de chuva nos aleros." - do Poema "Interlúdio").

Esta espera aqui aparece, semelhantemente a outros poemas do autor, a redigir os seus próprios propósitos, e é espera enquanto fuga ao caos da cidade, enquanto pequena imprevisibilidade da natureza, redefinição do tamanho e peso das coisas.

Por vezes os seus poemas fazem-me lembrar os do poeta brasileiro Manoel de Barros (veja-se, a título de exemplo, este "O Mundo não foi feito em Alfabeto"); pela visão conscientemente reduzida, por olhar o que está pertíssimo dos olhos, pelo dinamizar de realidades que, pelo alheamento frequente do comum dos mortais, parecem estáticas, ou quase isso. Veja-se, a este respeito, o poema O Mínimo (The Minimal): "Estudo as vidas sobre uma folha: os pequenos / Dorminhocos, paralisados estorvando-se em dimensão fria, / Escaravelhos em cavernas, salamandras, peixes surdos, / Piolhos colados a longas e fracas ervas subterrâneas, / Contorcionistas em pântanos, / E répteis bacterianos / Retorcendo-se entre feridas / Como jovens enguias em tanques, / As suas bocas descoloradas beijando suturas quentes, / limpando e acariciando, / deslizando e cicatrizando."

Theodore Roethke era claramente um poeta à frente do seu tempo, e isto sem negar que tenha passado por uma fase mais lírico-clássica, de poemas com uma forma mais rígida e com recurso à rima. Um dia terá dito que seria o mais velho jovem poeta da América. Foi fortemente influenciado por poetas como Ralph Waldo Emerson, Henry David Thoreau, Walt Whitman, William Blake, William Wordsworth, W.B. Yeats, e Dylan Thomas. Relacionou-se com poetas como W.H. Auden, Louise Bogan, Stanley Kunitz e William Carlos Williams. Durante a sua fase adulta teve problemas de instabilidade mental e de alcoolismo, reflectidos nos seus poemas, e não raras vezes de forma cómica, especialmente em temas como o amor erótico ou as relações familiares.

O simbolismo da sua poesia está ligado a cinco vectores que nela aparecem muito distintamente: nascimento, crescimento, decaimento, morte e renascimento. 

Dois poemas de Theodore Roethke:


CASA ABERTA

Os meus segredos gritam alto.
Não tenho necessidade de língua.
O meu coração oferece hospitalidade,
As minhas portas se abrem livremente.
Um épico dos olhos
O meu amor, sem qualquer fantasia.

As minhas verdades estão previstas,
Esta angústia auto-revelada.
Estou despido até aos ossos,
Com a nudez me escudo.
Visto-me a mim mesmo.
Conservo sóbrio o espírito.

A raiva permanecerá,
Os actos dirão a verdade
Em linguagem exacta e pura
Detenho a boca mentindo:
A fúria guia o meu grito mais claro
A uma agonia tonta.


(tradução inédita de Mário Carvalheira)


OPEN HOUSE

My secrets cry aloud.
I have no need for tongue.
My heart keeps open house,
My doors are widely swung.
An epic of the eyes
My love, with no disguise.

My truths are all foreknown,
This anguish self-revealed.
I'm naked to the bone.
With nakedness my shield.
Myself is what I wear.
I keep the spirit spare.

The anger will endure.
The deed will speak the truth.
In language strict and pure.
I stop the lying mouth:
Rage warps my clearest cry
To witless agony.


(do livro Open House)

*

O MÍNIMO

Estudo as vidas sobre uma folha: os pequenos
Dorminhocos, paralisados estorvando-se em dimensão fria,
Escaravelhos em cavernas, salamandras, peixes surdos,
Piolhos colados a longas e fracas ervas subterrâneas,
Contorcionistas em pântanos,
E répteis bacterianos
Retorcendo-se entre feridas
Como jovens enguias em tanques,
As suas bocas descoloradas beijando suturas quentes,
Limpando e acariciando,
Deslizando e cicatrizando.

(tradução inédita de Mário Carvalheira)


THE MINIMAL

I study the lives on a leaf: the little
Sleepers, numb nudgers in cold dimensions,
Beetles in caves, newts, stone-deaf fishes,
Lice tethered to long limp subterranean weeds,
Squirmers in bogs,
And bacterial creepers
Wriggling through wounds
Like elvers in ponds,
Their wan mouths kissing the warm sutures,
Cleaning and caressing,
Creeping and healing.

(do livro The Lost Son)


Em baixo, o poeta lendo o seu poema mais famoso: The Waking (Acordar)






Acordar

Acordo para dormir, tomo o meu despertar lento.
Sinto o meu destino em tudo aquilo
de que não posso ter medo.
Aprendo indo onde tenho de ir.
A Luz toma a Árvore; mas quem nos pode dizer agora?
O humilde verme sobe um degrau de vento
Acordo para dormir e tomo o meu despertar lento.
A Mãe Natureza tem outra coisa para fazer
para ti e para mim; então toma o ar vivo
e amorosamente aprende indo por onde ir.
Este tremer mantém-me estável. Eu deveria saber.
O que diminui é o sempre. E está perto.
Acordo para dormir e tomo o meu despertar lento.
Aprendo indo onde tenho de ir.
.
(Tradução inédita de Pedro Kashiba)

Ligações úteis:

Selecção de poesia

O artigo "Stanley Kunitz on Theodore Roethke" (Crossroads, 2002)

1 comentário:

  1. gostei dos poemas de theodore roethke e de o ouvir. já a animação... podiam ter feito qualquer outra coisa, desculpa.

    ResponderEliminar