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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

ROGER WOLFE : POEMAS, POESIA, BIOGRAFIA

























sb: série poetas

ROGER WOLFE

A poesia de Roger Wolfe (Westerham, Kent, Inglaterra - 1962 - poeta, ficcionista e ensaísta) é menos da cabeça e mais do visível, mais dos olhos e menos do tacto. A distância decompõe-se lentamente e em cada trecho vai abrindo linhas ora transversais, ora paralelas, como que dando a cada um desses acasos uma vida própria. Por isso os poemas de Wolfe podem ser olhados de diversas perspectivas, não raras vezes da perspectiva que nem nos é mostrada na letra do poema, mas que o leitor imagina, quase que vestindo a pele de «eu poético». Este universo só poucas vezes é feito de impossibilidades. Desta feita, as possibilidades (e só estas lhe existem) que o poema desbrava são quase sempre imagens em convalescença, coisas pouco nítidas que se fazem muito nítidas pela aproximação, pela clarividência súbita e felina dos olhos, pelo sentido de deslocação orientador e regulador da fraqueza e da força. Há em tudo isto um sentido de nostalgia que me faz recordar a poesia de poetas como Mario Benedetti ou o nosso José Carlos Barros. É um sentimento em descoloração, que propositadamente afrouxa e que, paradoxalmente, quanto mais afrouxa, mais sólidas as suas partes se tornam e de mais efeitos é causador. Há nesta poesia, por outro lado, um dever de protesto para com a realidade, e alguns poemas sublinham a impotência face à mesma, uma vontade perdida, o esquecimento parcial do sonho que a deveria combater. É o poema enquanto formalização da falta de valores, de resistência, de coragem, da constatação de pesadelos colectivos, do tempo perdido sempre em busca das suas correspondências num outro passado. Roger Wolfe vive em Espanha desde criança e literariamente expressa-se em espanhol.

Selecção de poesia:

O ESTRANGEIRO

Assomo-me ao terraço.
Uma mulher ajeita o seu cabelo
em frente ao espelho
do prédio da frente
de minha casa.
Lia
Dostoievski. Fecho o livro, 
deixo-o em cima da mesa,
sento-me e enceto
outra cerveja. Que tédio
sentar e aguardar a morte
enquanto as pessoas fornicam,
comem, trabalham ou se divertem
debaixo do sol sujo de setembro,
e nós sabemos, positivamente,
que nada irá acontecer.

Roger Wolfe
tradução de Pedro Gomes Sena

*

PÁLPEBRA

Pedro Salinas
disse num poema
que não quer deixar de sentir
a dor da ausência
da mulher que ama
porque isso é tudo
o que dela fica:
a dor.
Não me recordo das suas palavras exactas.
Ele di-lo melhor do que eu.
Eram outros tempos.
Salinas está morto.
A mulher que ele amava também.
Em breve o estaremos todos.
A vida é uma simples pálpebra.
Abre os olhos
e fecha-os.

Roger Wolfe
tradução de Luís Filipe Parrado


*

SABEDORIA

Uma mulher
que passa de bicicleta
às duas da manhã,
maravilhosas pernas morenas
dando aos pedais
enquanto a brisa lhe levanta o vestido
e revela
um perfeito milagre
de carne feminina em movimento.

Os nossos olhos
cruzam-se por um momento
e já se foi.

São coisas como esta
que te fazem dar conta
do pouco que realmente sabes
de nada.

Roger Wolfe
tradução de Luís Filipe Parrado


*

ARTIGO NÃO SUJEITO À LEGISLAÇÃO EM VIGOR


Os poemas?
Alguns funcionam,
outros não.
Se o que queres
é uma garantia,
então compra um televisor.

Roger Wolfe
tradução de Luís Filipe Parrado


*

AS PALAVRAS


As palavras são inúteis, teimosas, contorcem-se
como parafusos que não entram direitos.
E cansam-me. Embora sejam o que tenho.
Pequenos jogos de uma criança pobre.
Jazem sem tripas ao meu redor.
Todo o seu encanto derrama pelos seus ventres abertos.
O mecanismo há muito que deixou de ficar
intrigante ou atractivo.
Não há desafio. Não há faísca. Não há cor.
O mundo é tão cinzento quanto o meu asco.
As palavras são os pilares da minha abulia.
Mas são – disse e repito– o que tenho.

Roger Wolfe
tradução de Pedro Gomes Sena


*

Obra (Fonte: Wikipedia)

Poesia

    * Diecisiete poemas, Ángel Caffarena, Málaga, 1986.
    * Días perdidos en los transportes públicos, Anthropos, Barcelona, 1992.
    * Hablando de pintura con un ciego, Renacimiento, Sevilla, 1993.
    * Arde Babilonia, Visor, Madrid, 1994.
    * Mensajes en botellas rotas, Renacimiento, Sevilla, 1996.
    * Cinco años de cama, Prames, Zaragoza, 1998.
    * Enredado en el fango (Treinta y seis poemas en inglés. Edición bilingüe. Versiones españolas del autor.) Colección Línea de Fuego, Oviedo, 1999.
    * El invento (antología poética), selección de Aurora Luque y Emilio Carrasco, Cuadernos de Trinacria, Miguel Gómez Ediciones, Málaga, 2001.
    * El arte en la era del consumo (poemas y relatos), Sial, Madrid, 2001.
    * Vela en este entierro, Ediciones del 4 de AGOSTO, Logroño, 2006.
    * Días sin pan, Renacimiento, Sevilla, 2007.
    * Noches de blanco papel, Poesía completa (1986-2001), Huacanamo, Barcelona, 2008.
    * Afuera canta un mirlo, Huacanamo, Barcelona, 2009.

 
Narrativa

    * Quién no necesita algo en que apoyarse, Aguaclara, Alicante, 1993.
    * El índice de Dios, Espasa Calpe, Madrid, 1993.
    * Mi corazón es una casa helada en el fondo del infierno, Aguaclara, Alicante, 1996.
    * Fuera del tiempo y de la vida, Prames, Zaragoza, 2000.
    * ¡Que te follen, Nostradamus!, DVD, Barcelona, 2001.
    * Tiempos muertos, Huacanamo, Barcelona, 2009.

Ensaio

    * Todos los monos del mundo, Renacimiento, Sevilla, 1995.
    * Hay una guerra, Huerga & Fierro, Madrid, 1997.
    * Oigo girar los motores de la muerte, DVD, Barcelona, 2002.

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Artigo escrito por Sylvia Beirute

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1 comentário:

  1. Obrigado por trazeres um poeta que admiro muito...
    e o teu posts...está mesmo au point!!
    Beijo Sylvia

    ResponderEliminar