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domingo, 12 de setembro de 2010

LEONARD COHEN: POESIA - POEMAS - BIOGRAFIA

















sb: série poetas

LEONARD COHEN

Leonard Cohen (Montreal, 21 de Setembro de 1934), ao contrário do que muitos poderiam imaginar, já era um poeta respeitado (prefiro esta palavra ao já vulgar "consagrado") antes do seu aparecimento na música, que só aconteceu depois dos 30 anos. A sua poesia apresente um panorama artístico, em que a caracterização do que se vê, quantos aos seus elementos, vai estabelecendo relações, relações qualitativas, disputas entre referências, embora sejam estas disputas, a que chamaria "tensões", que vão concorrendo para o todo, para a naturalidade do quotidiano inusitado nessas letras expresso.

Um dos aspectos que mais aprecio, e que mais influência tem na minha poesia, é a forma como os poemas se iniciam, a procura por algo frio, algo que aparece sem deixar que a garganta mental do leitor aqueça, algo intruso aos sentidos de quem lê. É no fundo, e por mim falo, a escrita do não-poema, o descompromisso de se ter de escrever um poema. Este factor gera um lado fragmentário na escrita, que a faz existencialista pelo aparecimento, num mesmo poema, de vários contextos, cada um em confronto com os demais, o que prende a leitura e lhe dá um pendor mais activo.

A poesia de Leonard Cohen, quanto ao momento da redacção, não é metodológica; não creio que a técnica assuma destaque ou favoreça a generalidade do produto final (salvo algumas excepções). Isto não quer dizer que o cérebro não comande e dite as suas regras, não dê cartas quanto à assimilação das emoções, não formalize a herança prévia dos sentidos. Talvez por isso haja aqui um lado narrativo (na linhas de poetas modernos, alguns de quem tenho feito apreciações - Ana Luísa Amaral, Samuel Beckett, Gunnar Björling, etc), ao mesmo tempo íntimo (ou intimista), citacional do mundo, das correntes que nos julgam e nos servem direcções para a vida. 

É a poesia enquanto forma de devolução, de risco corrigido e calculado, espelho que movimenta o corpo apenas pelo olhar na sua direcção. Mas um espelho por vezes impiedoso, que não deixa ao poeta alternativa senão respeitar a realidade que ele  - espelho - encerra e interpreta.  Daí alguns dos poemas de Leonard Cohen não conterem quaisquer metáforas ou artefactos literários, indo apenas até onde esses sinais permitem, até à reciprocidade possível da relação escritor/espelho.


Alguns poemas de Leonard Cohen:


THE BOOK OF LONGING

I can't make the hills
The system is shot
I'm living on pills
For which I thank G-d

I followed the course
From chaos to art
Desire the horse
Depression the cart

I sailed like a swan
I sank like a rock
But time is long gone
Past my laughing stock

My page was too white
My ink was too thin
The day wouldn't write
What the night pencilled in

My animal howls
My angel's upset
But I'm not allowed
A trace of regret

For someone will use
What I couldn't be
My heart will be hers
Impersonally

She'll step on the path
She'll see what I mean
My will cut in half
And freedom between

For less than a second
Our lives will collide
The endless suspended
The door open wide

Then she will be born
To someone like you
What no one has done
She'll continue to do

I know she is coming
I know she will look
And that is the longing
And this is the book
 

LIVRO DO DESEJO

Não consigo superar as colinas
O sistema foi abaixo
Vivo de comprimidos
Coisa que agradeço a D--s

Segui o trajecto
Do caos à arte
Desejo o cavalo
Depressão a carruagem

Naveguei como um cisne
Afundei-me como uma rocha
Mas o tempo passou há muito
Pelas minhas reservas de riso

A minha página era demasiado
branca
A minha tinta era demasiado fina
O dia não quis escrever
Aquilo que a noite rabiscara

O meu animal uiva
O meu anjo aborreceu-se
Mas não me é permitida
Uma réstia de remorso

Pois alguém há-de utilizar
Aquilo que eu não soube ser
O meu coração será dela
De uma forma impessoal

Ela pisará o caminho
Perceberá a minha intenção
A minha vontade partida em duas
E a liberdade pelo meio

Por menos de um segundo
As nossas vidas colidirão
O interminável suspenso
A porta de par em par

Então ela há-de nascer
Para alguém como tu
O que nunca ninguém fez
Ela continuará a fazer

Sei que ela vem aí
Sei que ela irá olhar
E esse é o desejo
E este é o livro

Leonard Cohen - Livro do Desejo (edições quasi)
tradução de Vasco Gato

*

MISSION

I've worked at my work
I've slept at my sleep
I've died at my death
And now I can leave

Leave what is needed
And leave what is full
Need in the Spirit
And need in the Hole

Beloved, I'm yours
As I've always been
From marrow to pore
From longing to skin

Now that my mission
Has come to its end:
Pray I'm forgiven
The life that I've led

The Body I chased
It chased me as well
My longing's a place
My dying a sail


 

MISSÃO

Trabalhei no meu trabalho
Dormi no meu sono
Morri na minha morte
E agora posso abandonar

Abandonar aquilo que faz falta
E abandonar aquilo que está cheio
Necessidade de espírito
E necessidade no Buraco

Amada, sou teu
Como sempre fui
Da medula aos poros
Do anseio à pele

Agora que a minha missão
Chegou ao fim:
Reza para que me seja perdoada
A vida que levei

O Corpo que persegui
Perseguiu-me igualmente
O meu anseio é um lugar
O meu morrer, uma vela.

Leonard Cohen - Livro do Desejo (edições quasi)
tradução de Vasco Gato

*

YOU'D SING TOO

You'd sing too
if you found yourself
in a place like this
You wouldn't worry about
whether you were as good
as Ray Charles or Edith Piaf
You'd sing
You'd sing
not for yourself
but to make a self
out of the old food
rotting in the astral bowel
and the loveless thud
of your own breathing
You'd become a singer
faster than it takes
to hate a rival's charm
and you'd sing, darling
you'd sing too


 

TAMBÉM TU CANTARIAS

Também tu cantarias
se desses por ti
num lugar como este
Não te preocuparias
se serias tão bom como
o Ray Charles ou a Edith Piaf
Cantarias
cantarias
não para ti
mas para criar um eu
a partir do velho alimento
que apodrece na entranha astral
e na pancada surda, sem amor,
da tua própria respiração
Tornar-te-ias uma cantora
mais depressa do que o tempo necessário
até odiarmos o encanto de um rival
e cantarias, querida
também tu cantarias.

Leonard Cohen - Livro do Desejo (edições quasi)
tradução de Vasco Gato

*

FOR MY OLD LAYTON

His pain, unowned, he left
in paragraphs of love, hidden,
like a cat leaves shit
under stones, and he crept out in day,
clean, arrogant, swift, prepared
to hunt or sleep or starve.

The town saluted him with garbage
which he interpreted as praise
for his muscular grace. Orange peels,
cans, discarded guts rained like ticker-tape.
For a while he ruined their nights
by throwing his shadow in moon-full windows
as he spied on the peace of gentle folk.

Once he envied them. Now with a happy
screech he bounded from monument to monument
in their most consecrated plots, drunk
to know how close he lived to the breathless
in the ground, drunk to feel how much he loved
the snoring mates, the old, the children of the town.
Until at last, like Timon, tired
of human smell, resenting even
his own shoe-steps in the wilderness,
he chased animals, wore live snakes, weeds
for bracelets. When the sea
pulled back the tide like a blanket
he slept on stone cribs, heavy,
dreamless, the salt-bright atmosphere
like an automatic laboratory
building crystals in his hair.
PARA O MEU VELHO LAYTON

Ele oculta a sua dor sem dono
em frases de amor
da mesma maneira que um gato esconde as fezes
debaixo das pedras e aparece durante o dia,
arrogante, limpo, rápido, disposto
a caçar ou dormir ou a perecer de fome.

A cidade recebe-o com lixo
que ele interpreta como um elogio
a sua musculatura. Cascas de laranja,
latas, tripas chovendo como papel de teletipo.
Durante algum tempo ele destruiu as suas noites
com a sua sombra refletida na janela da lua cheia
enquanto espiava a paz da gente vulgar.

Uma vez invejou-os. Agora com um feliz
uivo saltava de monumento em monumento,
penetrava nos seus lugares mais sagrados, ébrio
de saber quão perto vivia dos mortos
debaixo da terra, ébrio de sentir o muito que queria
aos seus irmãos que ressonavam, os velhos e as crianças da cidade.

Até que por fim, cansado comoTímon
do odor humano, ressentindo-se mesmo das suas próprias
pegadas no deserto, dedicou-se a caçar animais, e adornou-se
com braceletes de serpentes vivas e cizânias.
Enquanto a maré decia como uma manta,
ele dormia em cavidades das rochas um sono pesado
sem sonhos, a aragem brilhante do sol
como se fosse um laboratório automático
formando cristais no seu cabelo.

em Leonard Cohen - Flowers For Hitler
tradução inédita de Carlos Besen


*

Livros editados:

    * 1956 - Let Us Compare Mythologies
    * 1961 - The Spice Box of Earth
    * 1963 - The Favorite Game
    * 1964 - Flowers for Hitler
    * 1966 - Beautiful Losers
    * 1966 - Parasites of Heaven
    * 1968 - Selected Poems 1956-1968
    * 1972 - The Energy of Slaves
    * 1978 - Death of a Lady's Man
    * 1984 - Book of Mercy
    * 1985 - Credo
    * 1993 - Stranger Music
    * 1995 - Dance Me to the End of Love
    * 2000 - God Is Alive, Magic Is Afoot
    * 2006 - Book of Longing


Ligações úteis:
Leonard Cohen Files
Como falar poesia, tradução por Jefferson Vasques de um texto de Leonard Cohen no blogue Eu Passarin

*
artigo escrito por Sylvia Beirute
.

6 comentários:

  1. Poderemos ouvir aqui ?

    A letra é um poema do Lorca

    ResponderEliminar
  2. Sylvia esta casa de poesia está com uma velocidade notável e uma qualidade surpreendente. Leonard Cohen é indistanciável de muitas das minhas memórias. gostei imenso de ler este artigo.

    ResponderEliminar
  3. Olá, Sylvia! Gostei muito do teu espaço aqui... feliz de ver a tradução do cohen circulando... voltarei regularmente! :) bejinhos, jeff (do Eu passarin)

    ResponderEliminar
  4. Sylvia Beirute,

    apreciei de fato a maneira como você analisou o modo como Leonard Cohen escreve, na maioria das vezes, poemas: de um jeito 'fragmentário', o que dá a eles um encanto especial, e nos enreda pela perspectiva de termos à frente (o leitor e a leitora), através do poema, uma visão aberta de certas coisas e fatos.

    Um abraço.
    Darlan M Cunha

    ResponderEliminar
  5. Leonardo Cohen é um depressivo e fanático Anti-Cristo. Gosto da tolerância religiosa por isso considero a atitude de Leonard Cohen para com Cristo e os cristãos abominável. Se eu lhe dissesse que o rei David foi um criminoso ao enviar o marido daquela que ele pecaminosamente desejou ele não gostaria. Só o estou agora a fazer para que todos os que pensam e agem como ele vejam se também gostam que ofendam as suas crenças. Que me desculpe o ungido de Deus que não tem culpa de semelhantes criaturas aberrantes que falam do que não sabem.

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  6. Não tenho palavras pra divino trabalho dessa pessoa insubstituível que é Leonard Cohen. Tenho 23 anos e sou apaixonado de corpo e alma por esse talentoso homem, obrigado por fazer da minha vida mais divertida e deslumbrante, só Cohen pra desabrochar o meu amor interior nas mais bem entoadas letras.

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