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terça-feira, 9 de novembro de 2010

HERBERTO HELDER: POEMAS, POESIA, ANÁLISE CRÍTICA, OBRA POÉTICA, BIOGRAFIA

























sb: série poetas

HERBERTO HELDER

A poesia é o único género em que uma estética pode esperar por uma realidade que a preencha, uma estética que pode sobreviver sem esse conteúdo imediato. Claro que não será qualquer estética que terá esta força. Vejo isso em poetas como António Ramos Rosa (sobretudo nos trabalhos mais recentes), em Al Berto, Gertrude Stein, mas sobretudo em Herberto Helder. Nos trabalhos deste último, o leitor não esperará um mundo completamente construído. Pelo contrário, encontrará a massa de um mundo com uma forma diversa, uma forma que é ditada por questões de ritmo, de palavras com significado isolado que se tornam decisivas na contaminação de múltiplas interpretações, de respirações, especialmente no cortar dos versos, como se de uma performance se tratasse, uma performance  integral em que a alma e o corpo se fundem, espalhando por cada peça do texto o seu interior mutilado e vivo. É pois o reviver, e já não o reproduzir, o que move Herberto Helder, muitas vezes dando grandes passos dentro do corpo do próprio texto, entre referências tão afastadas umas das outras, como que incendiando o diálogo autónomo entre estas interrogações, fazendo-as crescer até à apreensão mediata do núcleo seguro de significados que se oferecem ao destino momentâneo do leitor. Há nesta poesia aquilo que chamo de "estécnica", ou seja, aquilo que a poesia de outra dimensão contém: a simbiose entre a técnica pura e inata de um calibre poético de excelência e um sentido de beleza que faz semi-interromper a estrutura mental do leitor, para que ele - esse sentido - se assenhorie de todos os  acontecimentos da sensibilização. Para isso, há necessariamente um confronto muito vivo entre construção e destruição, sendo que nesse confronto dão-se não raras vezes fenómenos de sobreposição, de anti-justificação, de transgressão do fluxo verbal, o que oferece ao poeta um estilo inimitável, emergindo ele, ora como uma espécie de exorcista do seu poema, ora como o próprio exorcismo. Em certos poemas nota-se uma influência que eu diria "surrealizante", no sentido em que é o subconsciente que domina, que marca as barreiras e definições da sensibilidade, e isto sem haver um interlocutor próprio, mas um que se espalha pelos elementos da subjectividade e  da experiência individual. Por vezes esta vertente vai ao extremo, cabendo aqui a frase de Bernardo Soares, semi-heterónimo de Fernando Pessoa, "entendemo-nos porque nos ignoramos". Ora, é isso que acontece entre estes fragmentos em movimento primitivo, um certo alheamento uns face a outros, sem que no entanto a linha da beleza e ritmo que os guia os faça perder a coerência. Herberto Helder, pessoa e poeta, aparece como uma figura mística no seio da história da poesia portuguesa, ausentando-se por completo de qualquer circuito de visibilidade. A leitura dos seus livros, conjugada com este aspecto, é potencializadora da imaginação e subconsciente do leitor, constituindo-se, a meu ver, como uma importante mais-valia.


Poemas seleccionados:


Com uma pêra, dou-lhe um nome de erro
entre mim e tudo, na mão, amadureço
enquanto ela se torna propícia,
amarela ao influxo do vento de estrela para estrela.
O sangue da mão ensombra a fruta na sua volta
de átomos, abala
imagem, arquitectura.
E o espaço que isto cria: a noite
aparece no ar. E dura, leve, tersa, curva,
a linha
do fogo entrecruza
os pontos paralelos: a pêra desde o esplendor,
a mão desde
o equilíbrio, os centros
do sistema geral do corpo, o buraco negro.
Morro?
Escrevo apenas, e o hausto aspira
dedos e pêra, enigma e sentido, ordem, peso, o papel onde assenta
a constelação do mundo com esse buraco
negro e as palavras em torno.
No instante extremo de
desaparecerem.
Se morro, é por exemplo.

Herberto helder
Do Mundo
Assírio & Alvim, 1994 
.
*
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não some, que eu lhe procuro, e lhe boto
faca à garganta, ou lhe boto
na cabeleira tanta tanto fogo que você vira incêndio
em que se não tem mão, puta,
eu sei mas não me importa, quero é te apanhar
em uma braçada como de espuma,
mas se some eu lhe dano, essa sim, a puta de sua vida,
alta criatura chegada na terra muda,
em todo lado,
o dia todo,
a noite toda,
como se vê que uma árvore tem tanta folha luzindo
em toda parte dela e do vento e do tempo
e de minha ideia,
não some não, que eu desmundo
cada sítio do mundo onde
você estava ou está ou há-de estar, e comunico só do toque
que lhe ponho num mamilo,
no umbigo,
no clitóris,
na unha mindinha do pé esquerdo,
só porque tu estremece dos estudos de meus dedos exultantes,
não some nunca, fica morrendo de meu sopro,
ou dá luz como folha contada uma por cima de outra
que é isso: puta?
pequena se fôr às raízes latinas,
mas tudo cresceu e tamanho, grão de cobre
esparzido pelas capitais do corpo: púbis, cabeça
porque você é tão cerrada em sua vida própria,
trigo na noite,
excessiva beleza terrestre bruxuleando um pouco adentro,
que bèsteira de lhe chamar de puta,
de pequena
ou mesmo se lhe chame de grande puta,
se der o fora
ai dolor!
se sabedes novas da minha amiga, socôrro de minha baixa biografia.
ai Deus e u é?
vou à procura, encontro, jógo
vitríolo em teu rosto, desfiguro, ou com o calor da mão te lavro
por você acima,
casa ardendo cheia de uma estrela incalculável,
ah minha boca lhe come externa de nenhuma roupa sôbre que
carne soberba!
das plantas dos pés às pálpebras,
inteira,
e outra vez dos giolhos ou joelhos, como queira, à côna, e da côna,
divertimento linguístico lato sensu,
ao rés da penugem na testa rápida, amor,
não provoque, não some, que esse
beijo que agora coméço é para não
acabar nunca,
não queira que eu vá crer em Deus e pedir milagre,
fique, tão puta quanto seja, com
seu jeito de água marítima,
balançando, menininha, barca bêbeda,
mas enredada em mim como o alimento luminoso.
ah se incendeie a gente um do outro, que morte
ou vida mais total
não há, não some não, amor
da puta de minha vida indistinta,
noite onde me envôlvo para sempre,
que simples, contudo, com tudo isso, que é se cruzar com o mundo,
fique, fica junto, funda fêmea, que você já me está
fundada no sangue desde que outrora, e agora, e na hora da nossa

Herberto Helder
A Faca Não Corta o Fogo
Assírio & Alvim, 2008 
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*
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Gárgula.
Por dentro a chuva que a incha, por fora a pedra misteriosa
que a mantém suspensa.
E a boca demoníaca do prodígio despeja-se
no caos.
Esse animal erguido ao trono de uma estrela,
que se debruça para onde
escureço. Pelos flancos construo
a criatura. Onde corre o arrepio, das espáduas
para o fundo, com força atenta. Construo
aquela massa de tetas
e unhas, pela espinha, rosas abertas das guelras,
umbigo,
mandíbulas. Até ao centro da sua
árdua talha de estrela.
Seu buraco de água na minha boca.
E construindo falo.
Sou lírico, medonho.
Consagro-a no banho baptismal de um poema.
Inauguro.
Fora e dentro inauguro o nome de que morro.

Herberto Helder
Le poème continu
somme anthologique
Institut Camões / Chandeigne
Paris, 2002

.
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a faca não corta o fogo,
não me corta o sangue escrito,
não corta a água,
e quem não queria uma língua dentro da própria língua?
eu sim queria,
jogando linho com dedos, conjugando
onde os verbos não conjugam,
no mundo há poucos fenómenos do fogo,
água há pouca,
mas a língua, fia-se a gente dela por não ser como se queria,
mais brotada, inerente, incalculável,
e se a mão fia a estriga e a retoma do nada,
e a abre e fecha,
é que sim que eu amava como bárbara maravilha,
porque no mundo há pouco fogo a cortar
e a água cortada é pouca.
que língua,
que húmida, muda, miúda, relativa, absoluta,
e que pouca, incrível, muita
e la poésie, cést quand le quotidien devient extraordinaire, e que
_______________________________________música
que despropósito, que língua língua,
disse Maurice Lefèvre, e como rebenta na boca!
queria-a toda

Herberto Helder
A Faca Não Corta o Fogo
Assírio & Alvim, 2008
.
*
.
Quero um erro de gramática que refaça
na metade luminosa o poema do mundo,
e que Deus mantenha oculto na metade nocturna
o erro do erro:
alta voltagem do ouro,
bafo no rosto.

Herberto Helder

Ofício Cantante - Poesia Completa
Assírio & Alvim, 2009 
.
*
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Estremece-se às vezes desde o chão,
Por se ter uma navalha no bolso:
por o sexo ser sumptuoso:
por causa dos buracos luminosos na camisa,
Tem-se medo do poder
da nudez,
A finura da carne: uma unhada
no coração:
o modo de fazer rodar o quarto:
o barulho que se ouve nos canos onde
a água vive - tudo
sob a ameaça de uma riqueza
brusca
em nós, Quando um raio se desencadeia
pela coluna vertebral
abaixo, O golpe entre as madeixas
frias, Toca-se na cama:
e nunca mais se dorme, Toca-se
onde os pulmões se cosem à boca para gritar,
Às vezes tem-se o dom de fincar os pés na paisagem
em massa, Um feixe
desenfeixa-se no avesso - estala
fora, Com que vozes se encontra a gente
quando
o pavor se faz música
ordem
exercício nominal?,
Arrancamo-nos a tudo como
se arranca a unha
a um dedo: ou o dedo à mão: ou à mão
ao gesto
amassando a terra como se penteia,
Pente que reabre a chaga e a alastra,
Que a aprofunda
como o sangue aprofunda a claridade
pequena
de um lenço, se o lenço
se molha na costura que sangra
perpetuamente, A coroa irrompe da cabeça
pelo ímpeto
da realeza animal, O choque de um astro
calcinaria tudo
- o ceptro que nos crava no mundo
o manto
o escudo
os anéis como nós de dedos,
Morre-se de alta tensão,
É o relâmpago de um troço avistado,
As voragens à força de janelas,
ou é Deus que nos olha em cheio: dentro

Herberto Helder
Ofício Cantante
Assírio & Alvim, 2009 
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Não sei como dizer-te que a minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e casta.
Não sei o que dizer, especialmente quando os teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e tu estremeces como um pensamento chegado. Quando
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima,
– eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.

Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
o coração é uma semente inventada
em seu ascético escuro e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a minha casa ardesse pousada na noite.
– E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes caem no meio do tempo,
– não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.

Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço –
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra vai cair da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me falta
um girassol, uma pedra, uma ave – qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,

que te procuram.

Herberto Helder
Poesia Toda
Assírio & Alvim, 1996

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*
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São claras as crianças como candeias sem vento,
seu coração quebra o mundo cegamente.
E eu fico a surpreendê-las, embebido no meu poema,
pelo terror dos dias, quando
em sua alma os parques são maiores e as águas turvas param
junto à eternidade.
As crianças criam. São esses os espaços
onde nascem as suas árvores.

Enquanto as câmpanulas se purificam no cimo do fogo,
as crianças esmigalham-se.
Seu sangue evoca
a tristeza, tristeza, a tristeza
primordial.
- Enlouquecem depressa caídas no milagre. Entram
pelos séculos
entre cardumes frios, com o corpo espetado nas luzes
e o olhar infinito de quem não possui alma.

Seu grito remonta ao verão. Inspira-as
a velocidade da terra.
As crianças enlouquecem em coisas de poesia.
Escutai um instante como ficam presas
no alto desse grito, como a eternidade as acolhe
enquanto gritam e gritam.

- É-lhes dado o pequeno tempo de um sono
de onde saem
assombradas e altas. Tudo nelas se alimenta.
Dali a vida de um poema tira
por um lado apaixonamento; por outro,
purificação.
Nelas se festeja a imensidade
dos meses, a melancolia, a silenciosa
pureza do mundo.

Quem há-de pensar para as crianças, sem ter
espinhos nas vozes desertas
até ao fundo? É vendo-se aos espelhos,
no seguimento da noite,
que as crianças aparecem com o horror
da sua candura, as crianças fundamentais, as grandes
crianças vigiadoras -
cantando, pensando, dormindo loucamente.

Não há laranjas ou brasas ou facas iluminadas
que a vingança não afaste.
As crianças invasoras percorrem
os nomes - enchem de uma fria
loucura inteligente
as raízes e as folhas da garganta.
Aprendemos com elas os corredores do ar,
a iluminação, o mistério
da carne. Partem depois, sangrentas,
inomináveis. Partem de noite
noite - extremas e únicas.
- E nada mais somos do que o Poema onde as crianças
se distanciam loucamente.
Loucamente.
Herberto Helder
Ofício Cantante
Assírio & Alvim, 2009
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Porque eu sou uma abertura,
porque as noites cruzam os cometas,
porque a minha pedra com os lados frios contra as faúlhas,
porque abre as válvulas e se queima.
Alguém com os dedos na cabeça dando a volta à criança,
metendo-lhe mais força pelo fogo,
criança com um rastilho:
ou muita resistência na armadura, ou
peso, ou muita leveza, ou
dulcíssima:
ou fósforo, enxofre, pólvora, sopro, a farpa de outro
- e o ourifício que traz para o visível
o segredo: gota
com a trama de pedra calcinada em torno,
a pedra só abertura pela potência
de um pouco de pólen
oculto.
Porque riscam com áscua,
porque até à linha pulmonar as labaredas a iluminam,
porque um hausto de sangue a ilumina em toda a linha cardíaca,
porque as pontas irrompem do núcleo
do ouro pequeno.

Herberto Helder
Ofício Cantante - poesia completa
Assírio & Alvim, 2009
 
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É amargo o coração do poema.
A mão esquerda em cima desencadeia uma estrela,
em baixo a outra mão
mexe num charco branco. Feridas que abrem,
reabrem, cose-as a noite, recose-as
com linha incandescente. Amargo. O sangue nunca pára
de mão a mão salgada, entre os olhos,
nos alvéolos da boca.
O sangue que se move nas vozes magnificando
o escuro atrás das coisas,
os halos nas imagens de limalha, os espaços ásperos
que escreves
entre os meteoros. Cose-te: brilhas
nas cicatrizes. Só essa mão que mexes
ao alto e a outra mão que brancamente
trabalha
nas superfícies centrífugas. Amargo, amargo. Em sangue e exercício
de elegância bárbara. Até que sentado ao meio
negro da obra morras
de luz compacta.
Numa radiação de hélio rebentes pela sombria
violência
dos núcleos loucos da alma.

Herberto Helder
Ofício Cantante
Assírio & Alvim, 2009
 
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*
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O actor acende a boca. Depois, os cabelos.
Finge as suas caras nas poças interiores.
O actor põe e tira a cabeça
de búfalo.
De veado.
De rinoceronte.
Põe flores nos cornos.
Ninguém ama tão desalmadamente
como o actor.
O actor acende os pés e as mãos.
Fala devagar.
Parece que se difunde aos bocados.
Bocado estrela.
Bocado janela para fora.
Outro bocado gruta para dentro.
O actor toma as coisas para deitar fogo
ao pequeno talento humano.
O actor estala como sal queimado.

O que rutila, o que arde destacadamente
na noite, é o actor, com
uma voz pura monotonamente batida
pela solidão universal.

O espantoso actor que tira e coloca
e retira
o adjectivo da coisa, a subtileza
da forma,
e precipita a verdade.
De um lado extrai a maçã com sua
divagação de maçã.
Fabrica peixes mergulhados na própria
labareda de peixes.
Porque o actor está como a maçã.
O actor é um peixe.

Sorri assim o actor contra a face de Deus.
Ornamenta Deus com simplicidades silvestres.
O actor que subtrai Deus de Deus,
e dá velocidade aos lugares aéreos.
Porque o actor é uma astronave que atravessa
a distância de Deus.
Embrulha. Desvela.
O actor diz uma palavra inaudível.
Reduz a humidade e o calor da terra
à confusão dessa palavra.
Receita o livro. Amplifica o livro.
O actor acende o livro.
Levita pelos campos como a dura água do dia.
O actor é tremendo.
Ninguém ama tão rebarbativamente
como o actor.
Como a unidade do actor.

O actor é um advérbio que ramificou
de um substantivo.
E o substantivo retorna e gira,
e o actor é um adjectivo.
É um nome que provém ultimamente
do Nome.
Nome que se murmura em si, e agita,
e enlouquece.
O actor é o grande Nome cheio de holofotes.
O nome que cega.
Que sangra.
Que é o sangue.
Assim o actor levanta o corpo,
enche o corpo com melodia.
Corpo que treme de melodia.
Ninguém ama tão corporalmente como o actor.
Como o corpo do actor.

Porque o talento é transformação.
O actor transforma a própria acção
da transformação.
Solidifica-se. Gaseifica-se. Complica-se.
O actor cresce no seu acto.
Faz crescer o acto.
O actor actifica-se.
É enorme o actor com sua ossada de base,
com suas tantas janelas,
as ruas -
o actor com a emotiva publicidade.

Ninguém ama tão publicamente como o actor.
Como o secreto actor.

Em estado de graça. Em compacto
estado de pureza.
O actor ama em acção de estrela.
Acção de mímica.
O actor é um tenebroso recolhimento
de onde brota a pantomima.
O actor vê aparecer a manhã sobre a cama.
Vê a cobra entre as pernas.
O actor vê fulminantemente
como é puro.
Ninguém ama o teatro essencial como o actor.
Como a essência do amor do actor.
O teatro geral.

O actor em estado geral de graça.
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Herberto Helder
Ofício Cantante - Poesia Completa
Assírio & Alvim, 2009 

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*
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Herberto Helder de Oliveira (Funchal, 23 de Novembro de 1930) é um poeta português de ascendência judaica. Frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, tendo trabalhado em Lisboa como jornalista, bibliotecário, tradutor e apresentador  de programas de rádio. Viajou por diversos países da Europa realizando trabalhos corriqueiros, sem nenhuma relação com a literatura e foi redactor da revista Notícia em Luanda, Angola, em 1971, onde sofreu um acidente grave. É considerado um dos mais originais poetas vivos de língua portuguesa. É uma figura misantropa, e em torno de si paira uma atmosfera algo misteriosa uma vez que recusa prémios e se nega a dar entrevistas. Em 1994 foi o vencedor do Prémio Pessoa que recusou. É pai do jornalista Daniel Oliveira. A sua escrita começou por se situar no âmbito de um surrealismo tardio. Escreveu "Os Passos em Volta", um livro que através de vários contos, sugere as viagens deambulatórias de uma personagem por entre cidades e quotidianos, colocando ao mesmo tempo incertezas acerca da identidade própria de cada ser humano (ficção); "Photomaton e Vox", é uma colectânea de ensaios e textos e também de vários poemas. "Poesia Toda" é o título de uma antologia pessoal dos seus livros de poesia que tem sido depurada ao longo dos anos. Na edição de 2004 foram retiradas da recolha suas traduções. Alguns dos seus livros desapareceram das mais recentes edições da Poesia Toda, rebatpizada Ofício Cantante, nomeadamente Vocação Animal e Cobra. A crítica literária aproxima sua linguagem poética do universo da Alquimia, da mística, da Mitologia edipiana e da Imago da Mãe.

in wikipedia

-
Obra poética inclui:

    * Poesia – O Amor em Visita (1958)
    * A Colher na Boca (1961)
    * Poemacto (1961)
    * Retrato em Movimento (1967)
    * O Bebedor Nocturno (1968)
    * Vocação Animal (1971)
    * Cobra & etc. (1977)
    * O Corpo o Luxo a Obra (1978)
    * Photomaton & Vox (1979)
    * Flash (1980)
    * A Cabeça entre as Mãos (1982)
    * As Magias (1987)
    * Última Ciência (1988)
    * Do Mundo, (1994)
    * Poesia Toda (1º vol. de 1953 a 1966; 2º vol. de 1963 a 1971) (1973)
    * Poesia Toda (1ª ed. em 1981)
    * A Faca Não Corta o Fogo - Súmula & Inédita (2008)
    * Ofício Cantante (2009)o


Obra de Ficção:

    * Os passos em volta, 1963
     * Apresentação do rosto, 1968 

( obra apreendida pela Pide e que o autor posteriormente rejeitou ))

 -
Artigo de Sylvia Beirute
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1 comentário:

  1. só falta constar - o que nunca ninguém aponta, mas deveria ser dito - o romance semi-autobiográfico "apresentação do rosto", apreendido pela PIDE e retirado do mercado pela própria mão de HH, sujeito a um ensaio pela mão de manuel de freitas e editado pela &etc. sei que, por ter sido renegado pelo próprio autor, seria requisito suficiente para não constar na bibliografia, mas é para isso que servem as notas de rodapé. alguns livros ainda por aí andam na sombra dele. de resto, bom trabalho de apresentação.

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