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terça-feira, 12 de outubro de 2010

PABLO NERUDA: POEMAS, POESIA, BIOGRAFIA E OBRA




















sb: série poetas

PABLO NERUDA

A poesia de Pablo Neruda assenta em linhas férreas bem definidas, sobre as quais percorre um avesso do corpo e extremos de uma sinceridade no seu estado mais natural. É o poeta enquanto tradução de quem escreve, de quem, a pulso, edificou uma vida com todos os condimentos que esta deve ter: dor, fuga, solidão, amor, amizade, desencontros, reencontros, mudança, renovação. Em termos formais, estes textos são bem lapidados, conduzindo o leitor para a sua prisão emocional. Esta é muito intensa no tom, dando asas a uma memória que ainda se experimenta (e experiencia) a si mesma, evocando antepassados, sepulturas antigas e flores enquanto simbologia para sentimentos transversais a todo o tempo. Uma das particularidades dos poemas de Neruda é o tratamento dado ao amor. Este não aparece sempre enquanto amor passional - esse amor às vezes corrupto e corrompido pelas circunstâncias e pelo aspecto mais visual do encantamento. Pelo contrário, em determinadas construções, o amor ergue-se como iluminação de um caminho puro e bem terreno, expresso no discurso racional e por vezes dirigido não só a uma figura feminina alvo de um desejo, mas, por exemplo, a um familiar ou a um amigo. É no fundo a busca por um quotidiano feliz, consciente dos equilíbrios que este deve ter. Neruda enquanto poeta ganhou assim a sua identidade. Uma identidade que se caracteriza pela busca e descoberta de quem está por detrás desse eu poético e necessita de existir dentro de um espaço e tempo a ele destinados.
O poeta estimula na sua escrita o culto da novidade, a reprodução dos efeitos do que é novo, ainda que tal situação ja tenha sido vivida pelo menos analogamente. A confessionalidade dos textos assim o comprova, dentro de formulações novas, fazendo do que se descreve uma metáfora ou imagem para uma tentativa de regência de um destino mental e emocional que muitas vezes aparece de portas fechadas. E é precisamente aqui que entram as qualidades de Neruda e a força envaidecida da sua poética.


Poemas seleccionados:

TÉDIO

Ir levando no caminho os amores perdidos
e os sonhos idos
e os fatais sinais do olvido.

Ir seguindo na dúvida das horas apagadas,
pensando que todas as coisas se tornaram amargas
para alongarmos mais a via dolorosa.

E sempre, sempre, sempre recordar a fragrância
das horas que passam sem dúvidas e sem ânsias
e que deixamos longe na estéril errância.

Pablo Neruda
em Cadernos de Temuco
Tradução de Albano Martins

*

NÃO ME SINTO MUDAR

Não me sinto mudar. Ontem eu era o mesmo.
O tempo passa lento sobre os meus entusiasmos
cada dia mais raros são os meus cepticismos,
nunca fui vítima sequer de um pequeno orgasmo

mental que derrubasse a canção dos meus dias
que rompesse as minhas dúvidas que apagasse o meu nome.
Não mudei. É um pouco mais de melancolia,
um pouco de tédio que me deram os homens.

Não mudei. Não mudo. O meu pai está muito velho.

As roseiras florescem, as mulheres partem
cada dia há mais meninas para cada conselho
para cada cansaço para cada bondade.

Por isso continuo o mesmo. Nas sepulturas antigas
os vermes raivosos desfazem a dor,
todos os homens pedem de mais para amanhã
eu não peço nada nem um pouco de mundo.

Mas num dia amargo, num dia distante
sentirei a raiva de não estender as mãos
de não erguer as asas da renovação.

Será talvez um pouco mais de melancolia
mas na certeza da crise tardia
farei uma primavera para o meu coração.

Pablo Neruda
em Cadernos de Temuco
Tradução de Albano Martins

*

AMIGO

1.

Amigo, toma para ti o que quiseres,
passeia o teu olhar pelos meus recantos,
e se assim o desejas, dou-te a alma inteira,
com suas brancas avenidas e canções.

2.

Amigo - faz com que na tarde se desvaneça
este inútil e velho desejo de vencer.

Bebe do meu cântaro se tens sede.

Amigo - faz com que na tarde se desvaneça
este desejo de que todas as roseiras
me pertençam.

Amigo,
se tens fome come do meu pão.

3.

Tudo, amigo, o fiz para ti. Tudo isto
que sem olhares verás na minha casa vazia:
tudo isto que sobe pelo muros direitos
- como o meu coração - sempre buscando altura.

Sorris-te - amigo. Que importa! Ninguém sabe
entregar nas mãos o que se esconde dentro,
mas eu dou-te a alma, ânfora de suaves néctares,
e toda eu ta dou... Menos aquela lembrança...

... Que na minha herdade vazia aquele amor perdido
é uma rosa branca que se abre em silêncio...

Pablo Neruda
 em Crepusculário
Tradução de Rui Lage


*

AMOR

Mulher, teria sido teu filho, para beber-te
o leite dos seios como de um manancial,
para olhar-te e sentir-te a meu lado e ter-te
no riso de ouro e na voz de cristal.

Para sentir-te nas veias como Deus num rio
e adorar-te nos ossos tristes de pó e cal,
para que sem esforço teu ser pelo meu passasse
e saísse na estrofe - limpo de todo o mal -.

Como saberia amar-te, mulher, como saberia
amar-te, amar-te como nunca soube ninguém!
Morrer e todavia
amar-te mais.
E todavia
amar-te mais
e mais.

Pablo Neruda
em Crepusculário
Tradução de Rui Lage

*

VELHO CEGO, CHORAVAS

Velho cego, choravas quando a tua vida
era boa, e tinhas em teus olhos o sol:
mas se tens já o silêncio, o que é que tu esperas,
o que é que esperas, cego, que esperas da dor?

No teu canto pareces um menino que nascera
sem pés para a terra e sem olhos para o mar
como os das bestas que por dentro da noite cega
- sem dia ou crepúsculo - se cansam de esperar.

Porque se conheces o caminho que leva
em dois ou três minutos até à vida nova,
velho cego, que esperas, que podes esperar?

Se pela mais torpe amargura do destino,
animal velho e cego, não sabes o caminho,
eu que tenho dois olhos to posso ensinar.

Pablo Neruda
em Crepusculário
Tradução de Rui Lage

*

O POÇO


Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profunduras da tua existência.
Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?
Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.
Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.
Radiosa me sorri
se minha boca fere.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.
Dá-me amor, sorri-me
e ajuda-me a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.

Pablo Neruda
em Antologia da Existência
tradução de João Silva Pratas


*


GOSTO QUANDO TE CALAS

Gosto quando te calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.
Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.

Pablo Neruda
em Antologia da Existência
tradução de João Silva Pratas

*

Pablo Neruda (Parral, 12 de Julho de 1904 — Santiago, 23 de Setembro de 1973) foi um poeta chileno, bem como um dos mais importantes poetas da língua espanhola do século XX e cônsul do Chile na Espanha (1934 — 1938) e no México. Venceu o Prémio Nobel da Literatura em 1971.

Obra

    * Crepusculario. Santiago, Ediciones Claridad, 1923.
    * Veinte poemas de amor y una canción desesperada. Santiago, Nascimento, 1924.
    * Tentativa del hombre infinito. Santiago, Nascimento, 1926.
    * El habitante y su esperanza. Novela. Santiago, Nascimento, 1926. (prosa)
    * Residencia en la tierra (1925-1931). Madrid, Ediciones del Arbol, 1935.
    * España en el corazón. Himno a las glorias del pueblo en la guerra: (1936- 1937). Santiago, Ediciones Ercilla, 1937.
    * Tercera residencia (1935-1945). Buenos Aires, Losada, 1947.
    * Canto general. México, Talleres Gráficos de la Nación, 1950.
    * Todo el amor. Santiago, Nascimento, 1953.
    * Odas elementales. Buenos Aires, Losada, 1954.
    * Nuevas odas elementales. Buenos Aires, Losada, 1955.
    * Tercer libro de las odas. Buenos Aires, Losada, 1957.
    * Estravagario. Buenos Aires, Losada, 1958.
    * Cien sonetos de amor (Cem Sonetos de Amor). Santiago, Ed. Universitaria, 1959.
    * Navegaciones y regresos. Buenos Aires, Losada, 1959.
    * Poesías: Las piedras de Chile. Buenos Aires, Losada, 1960.
    * Cantos ceremoniales. Buenos Aires, Losada, 1961.
    * Memorial de Isla Negra. Buenos Aires, Losada, 1964. 5 vols.
    * Arte de pájaros. Santiago, Ediciones Sociedad de Amigos del Arte Contemporáneo, 1966.
    * Fulgor y muerte de Joaquín Murieta. Bandido chileno injusticiado en California el 23 de julio de 1853. Santiago, Zig-Zag, 1967. (obra teatral)
    * La Barcaola. Buenos Aires, Losada, 1967.
    * Las manos del día. Buenos Aires, Losada, 1968.
    * Fin del mundo. Santiago, Edición de la Sociedad de Arte Contemporáneo, 1969.
    * Maremoto. Santiago, Sociedad de Arte Contemporáneo, 1970.
    * La espada encendida. Buenos Aires, Losada, 1970.
    * Discurso de Stockholm. Alpigrano, Italia, A. Tallone, 1972.
    * Invitación al Nixonicidio y alabanza de la revolución chilena. Santiago, Empresa Editora Nacional Quimantú, 1973.
    * Libro de las preguntas. Buenos Aires, Losada, 1974.
    * Jardín de invierno. Buenos Aires, Losada, 1974.
    * Confieso que he vivido. Memorias. Barcelona, Seix Barral, 1974. (autobiografia)
    * Para nacer he nacido. Barcelona, Seix Barral, 1977.
    * El río invisible. Poesía y prosa de juventud. Barcelona, Seix Barral, 1980.
    * Obras completas. 3a. ed. aum. Buenos Aires, Losada, 1967. 2 vols.

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