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domingo, 15 de novembro de 2009

Um poema de Sylvia Beirute - Leitura Explícita





















LEITURA EXPLÍCITA

{talvez um dia regresse à voz do leitor.}
o leitor morre mais depressa que o poeta.
quero os meus poemas a morrerem
daqui a cem anos
no último fio de voz do primeiro leitor imediato
e numa altura em que todos os livros
subirão aos céus.
não quero o prazer de haver sido distante
num tempo distante. quero o prazer
de ser imediata e soberba
num tempo imediato e arrogante.
quero manufacturar tudo o quanto de pescoço há
na representação.
porque o tempo futuro é um encolher de ombros,
e nos meus poemas as razões se limitam
a retirar razões a outras razões.

Sylvia Beirute
inédito

16 comentários:

  1. Sylvia - a este ritmo torrencial arrisca-se a não ter leitores com capacidade e lucidez para apreciar a sua escrita. É evidente que este poema é magnífico. Que o anterior, apesar de uma inútil referência quase escatológica, é magnífico.
    É evidente que a sua linguagem transporta um onirismo nos limites do insano. Tem algo de pessoano, discursivo, mas também muito de seu e inovador, talvez próximo de Llansol. Poetas há que fazem uma dúzia de poemas por ano. Mas a sua oficina é irreprimivelmente incontida. E é isso que me atrai.
    Mas atenção - as fontes esgotam(-se).

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  2. Caro Daniel.

    Entendo perfeitamente o que me diz. Mas, tal como diz o presente poema, pouco me importa o futuro. Escrevo a um ritmo natural.

    Obrigada pelos elogios e é um prazer ter um leitor tão atento.

    S.

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  3. todo esforço de um poeta se intensifica na brevidade intensa de um leitor.

    gostei muito!
    beijos ,Anita.

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  4. Nossa...adorei o seu blog...muito expressivo...Beirut? Que massa...

    ResponderEliminar
  5. aqui e agora,
    por dentro e fora,
    é onde o perigo
    mora...

    excelente !

    abs

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  6. O tempo de quem escreve passa.
    O de quem lê, também. A poesia fica, eterniza-se nas possibilidades de uma hora ou outra se encaixar na vida de mais alguém...

    Muito, muito bom!

    Abraços!

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  7. O poeta é um fingidor já lá dizia Pessoa, o poeta sobrevive a todo.
    Este poema é de "cortar" a respiração.

    :)Beijos

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  8. "quero manufaturar tudo o quanto de pescoço há
    na representação" gostei viu!
    O crédito da foto, é sua?

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  9. MARINHEIROS DA FOME DO VENTO

    As marés das palavras gigantes
    Rolam nos volantes marítimos
    Dos poemas que cheiram a maresia.
    Os barcos das ideias nascentes
    Navegam de vaga em vaga
    Ao sabor da espuma que dialoga amizades
    E gastam palavras sem o sentido
    Dos marinheiros que cantam canções
    Contando as lendas do tempo infinito.
    E as palavras rolam, como elas rolam…
    São ondas que viram o alfabeto das crianças
    E inventaram os pianos da fantasia
    Que roubam ao mar as melodias da serenidade.
    Eu ouço as marés
    E as palavras soam a passinhos infantis
    Na areia molhada das brincadeiras encantadas;
    E os poemas nascem, crescem e voam
    Por entre as gotas salgadas dos mistérios
    Onde marinheiros sem idade
    Rompem os limites do tempo com velas de vento
    E lavam as memórias dos viajantes esquecidos
    Que acordam as marés das palavras gigantes
    E constroem prosas de elegância marítima.
    Eu leio tudo o que o vento me traz
    E faço da paz salgada
    O barco que lambe à brisa a festa das ondas
    Onde os cavalos-marinhos seguem o Futuro
    Que as marés das palavras gigantes
    Transformam em concertos de água perfumada
    E os marinheiros dos barcos sem tempo
    Celebram os abraços nocturnos
    Dos poemas que as crianças feitas homens
    Sussurram às velas que o vento bebe
    E espalha pelas águas amorosas
    As palavras gigantes que são marés
    Que descobrem ao Mundo
    Os sonhos que todos os marinheiro sonham
    Quando a noite é a fome do vento.


    Oeiras, 30/08/2009 - Jorge Brasil Mesquita
    www.comboiodotempo.blogspot.com

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  10. Quer sair pra tomar um café comigo? Ou, quem sabe, um conhaque?
    http://joesilhueta.blogspot.com
    http://myspace.com/korinakorina

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  11. Valeu a pena esperar, e sentado.
    A ousadia é lema. Está na ponta da língua.
    Isto aqui está cada vez melhor. Quero mais!

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  12. o bom poeta é aquele que consegue esconder na perfeição todas as suas influencias. é obvio que por trás da sylvia está alguem que já escreveu muito e já leu muito. nota-se que não se conformou com aquilo que leu e consegue imaginar um mundo a partir daí. estou espantado com poemas de que este é exemplo.

    Pedro

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  13. Sylvia: que bom encontrar alguém que escreve poesia para mudar o mundo, mesmo que seja o seu (que é também o nosso). E que bom que esse alguém, que tanto gosta de poesia, goste dos dias imperfeitos! Agradeço-lhe o facto de ter considerado o meu como blogue da semana.

    ResponderEliminar
  14. o seu encolher de ombros provoca o póstumo que desdenha, é quase sempre assim, parece que o génio pressente a injstiça do seu destino em relação à obra (Flaubert e Madame Bouvary).

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  15. Soberba é para os despudorados de moral =]

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  16. é de se mergulhar
    é de se afogar ser seu leitor agora

    e quando
    uma poeta que está lá e aqui?

    obrigado

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