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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Um poema de Sylvia Beirute - Buenos Aires


















BUENOS AIRES

não haverá vontades ou actos linguísticos,
nem contrários ou anti-contrários.
nenhum ilhado de nuvens brancas
sobrevoará a cidade hermética
do meu lunfardo.
tão-pouco haverá um orgulho cómico
ou uma atmosfera
em linha recta no mapeamento absoluto
dos meus olhos.
neste instante, nem piazzolla gerará
inflamações num «volte sempre»
e é seguro dizer que as decisões se medem
com distâncias ocupadas por vazios
que arrastam memórias livres.
hoje não haverá vontades ou actos linguísticos,
uma cor clara
comove uma cor escura até que esta se dissolva,
o amor deu a sua última volta, e a poesia planou
na literalidade móvel de um roteiro interior.
em breve, inextinguimos o tempo e o espaço
que nos extinguiu a nós.

Sylvia Beirute
inédito

4 comentários:

  1. [distante e próximos, bons ares, que em palavras se transportam delicadamente, em sangue de terra e letra]

    um imenso abraço, Sylvia

    Leonardo B.

    ResponderEliminar
  2. esta de volta a poetisa que só sabe escrever grandes poemas. que venha para ficar, sylvia.

    ResponderEliminar
  3. tenho passado por aqui e tenho gostado...ainda bem que não desististe...

    beijinho*

    ResponderEliminar