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domingo, 18 de julho de 2010

Cinema: O Escritor Fantasma

 
 
 
 por Isadora Sinay
 
 
O Escritor Fantasma, novo filme de Roman Polanski revisita algumas características marcantes do estilo do diretor: o suspense, a paranóia e o ambiente claustrofóbico. O filme acompanha um escritor fantasma, nunca nomeado, contratado para redigir as memórias de um controverso primeiro-ministro britânico, contudo, as coisas parecem mais complicadas do que a primeira vista, já que seu predecessor morreu afogado de forma suspeita.

Polanksi é um mestre do mistério e, sendo assim, sustenta a ação pelas longas duas horas e meia de filme graças a sutis reviravoltas narrativas. Mas mais do que conduzir bem uma narrativa intrincada, Polanski é um cineasta de atmosfera e aqui ela é extremamente fria, organizada, higienizada sem lugar para falhas, um mundo de eficiência completa. A fotografia é acinzentada e a direção de arte trabalha com tons neutros, criando um atmosfera de extrema riqueza minimalista, imersa em um mundo ainda mais hostil, o de uma pequena ilha gelada no litoral de Massachussets.

Assim, o diretor constrói um suspense eficaz com elementos que fazem parte da sua obra, construindo um filme de estilo. Contudo, como a recorrência dos elementos formais parece querer indicar, trata-se de um filme extremamente autoral, em que o diretor se estampa nas escolhas de plano, de locação, de atores e em cada momento da trama.

 
A crítica aos Estados Unidos é pungente: uma sociedade de controle, mas, ao mesmo tempo, moralmente fluída, em que se pode ultrapassar a fronteira da humanidade para alcançar o inimigo, em que tramas são ungidas em uma espécie de cúpula do poder — ainda que se trate do grande advogado da democracia. Polanski, como seu personagem, é um encarcerado, pode fugir, pode conquistar aliados e até mesmo descobrir o que se passa por trás de sua perseguição, mas de certa forma será pego e sua liberdade é sempre provisória.

Se há no filme rancor há também a capacidade do artista de transformar sua experiência em universal e a casa de alta tecnologia parece refletir não só a gaiola dourada do diretor, mas a do mundo que afasta as relações humanas e as substitui por profissionais, pela conveniência de um romance com a secretária.

Dessa forma, O Escritor-Fantasma é a volta de Roman Polanski aos seus grandes filmes: a tensão e a paranóia de O Bebê de Rosemary, a claustrofobia de Cul-de-Sac e Repulsa e a crítica ácida de Faca na Água. O filme é ainda o retrato de seu rancor e sua repulsa pelo país que de certa forma adotou e um exercício estilístico, com fotografia impecável, direção de arte extraordinária, atores excepcionais e planos muito bem executados. No fim, este filme parece ser mais próximo de uma obra pessoal ao mesmo tempo em que se trata de um exercício de excelência de um gigante encarcerado. 

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