O POETA E A POESIA EXPERIMENTAL
Esta ambiguidade, indefinibilidade e polivalência do real são testemunhadas, no plano da representação estética, pela experimentação e o encontro sucessivo, determinados por desajustamentos e ajustamentos entre a imaginação e a realidade.
Trata-se de uma regra tradicional que a tradição esquece, quando perde o dinamismo sobre que assenta. Porque a tradição é um movimento. Em princípio, não existe nenhum trabalho criativo que não seja experimental, nesse sentido em que ele supõe vigilância sobre o desgaste dos meios que utiliza e que procura constantemente recarregar de capacidade de exercício. A linguagem encontra-se sempre ameaçada pelos períodos de inadequação e invalidez. É algo que, no seu uso, se gasta e refaz, se perde e ajusta, se organiza, desorganiza e reorganiza – se experimenta. Como diria um poeta, essa é a própria lição das coisas.
Entretanto, será oportuno acentuar que os organizadores de Poesia Experimental não se vinculam, nessa qualidade, a qualquer especiosa ou unívoca noção de experimentalismo. Disse-se já da sua confiança na multiplicidade dos exemplos. Uma concepção unilateral de aventura anularia o princípio básico de busca individual e livre, já que liberdade é, tanto no sentido estético como moral, o primeiro dos signos – o da eficácia.
In Poesia Experimental
Hatherly, Castro, 1981
Sem comentários:
Enviar um comentário