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quinta-feira, 15 de julho de 2010

Um poema de Sylvia Beirute - Escrito para crise de ciúmes (ou um indivíduo inglês)





















ESCRITO PARA CRISE DE CIÚMES
(ou um indivíduo inglês)

era um indivíduo inglês que admiro.
não tanto a poeticidade no raciocínio,
não tanto a sua inclusão nas pretensões
dos sismos, o seu repor-se no mesmo sítio
não inteiramente igual;
era um indivíduo
inglês que admiro e que me sorriu e
fotografou na prestidigitação do parque,
no círculo perfeito da dialéctica do meu repúdio
pelo passado puramente geográfico, que é
lei das duplicações; vi-lhe os olhos, sim, e
vi que ainda sabiam azulecer
e juro pelos factos que não são verdade
que ainda tinha o cordão umbilical
e que trazia um espelho numa mão
sempre apontado para as nuvens
que naufragavam na minha concreção privativa;
e num amanhã de um outro tempo: verás talvez
este escrito para crise de ciúmes
respirado noutro formato,
com todos os termos que a minha total
ausência de indução me hoje não deixará governar;
e aí sim:
verás como o conteúdo de uma imagem
ainda pode ensinar o passado;
ou o seu cadáver. 

Sylvia Beirute
inédito

4 comentários:

  1. Só escrever porcaria, miúda. Será que não te topas?

    ResponderEliminar
  2. Forte!
    Gostei muito de ler!
    Já tenho te lido e te admirado muito, teu escrever tem a força que vem das entranhas.
    Grande abraço

    ResponderEliminar
  3. este poema pode ser analisado de tantas formas... primeiro a situação do momento e a raiva contagiante que se sente, depois as imagens que percorrem o estado de alma (por ex. aquela do espelho para as nuvens....e também a caraterizaçao das proprias nuvens). todos os factores do poema acabam por ter vida própria, nao deixando que o momento acabe. no final, aquele remate é desconcertante pois ficamos a pensar que este momento serve de lição por ter acontecido um momento anterior.
    tem mesmo de ser lido várias vezes e e é para ler devagar.

    ResponderEliminar
  4. "juro pelos factos que não são verdade
    que ainda tinha o cordão umbilical
    e que trazia um espelho numa mão
    sempre apontado para as nuvens"

    ________________ Rendida, juro !:))


    beijo

    iv

    ResponderEliminar