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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

SEAMUS HEANEY: POEMAS, POESIA, BIOGRAFIA
























sb: série poetas

SEAMUS HEANEY

Por causa da presença do escritor irlandês Peter Cunnigham em Portugal, no festival Lit.algarve, tive vontade de escrever umas linhas sobre um poeta também da Irlanda, mas do Norte. O maior poeta irlandês desde William Butler Yeats: Seamus Heaney.

Seamus Heaney nasceu em 13 de Abril de 1938 em Mossbawn, County Derry, e ganhou o Prémio Nobel em 1995 e o Prémio T. S. Eliot em 2006. A poesia de Heaney é, diria poeticamente, de vagas carícias, de pequenos ruídos do quotidiano que lhe impõem uma subtileza no estilo, como se os movimentos, ainda que associados à dor, se manifestassem lentamente. Este lento demonstrar do interior, impelido por aquilo que o poeta vai assistindo, é contudo enganador, revelando, não raras vezes, o seu propósito. Porque é a lentidão enquanto espaço de conhecimento, exaustão da visibilidade e da compreensão e razão. Esta poesia diz respeito a uma ordem confessional, mas uma confessionabilidade, eu diria, de viagem. Ou seja, a diferença entre as coisas que o eu poético descortina serve de móbil à confissão. Aqui a confissão é uma confissão de domínio, relato de experiência, senão de renovação obscura. De outro modo, há por vezes uma realização do poema dentro do espaço social (e religioso) do autor, senão do ambiente político. Isso é bem visível no seu livro de poemas em prosa Stations. Aí, a primeira parte do que disse acerca da sua poesia como que se integra nesta moldura, "invernando" (como diria o próprio Seamus Heaney) na vida rural da Irlanda do Norte (o convívio, os medos, a apanha da fruta, etc) e, ainda mais atrás, no passado em que este era uma criança: a segunda guerra mundial. Este último aspecto também é transversal à sua poesia: a revisita do mundo através dos seus olhos enquanto criança (a que não é alheio o facto de Heaney ter abandonado a Irlanda do Norte em plena guerra civil),  a busca continuada por uma segunda inocência, uma lucidez renovada, um pequeno sorriso. Há no poeta um discurso contaminado por algum cosmopolitismo, pela diversidade que define e condiciona o tempo enquanto espaço de acção, espaço que chama a si essa mesma acção, esse narrar poético intelectual mas afectivo. Os poemas raramente questionam. Usam uma índole afirmativa, mas que se não confunde com altivez; são por vezes alívios de uma identidade, como se esse falar pudesse fazer esquecer parcialmente, pudesse perdoar, fazer com que o tempo actual seja uma espécie de tempo-zero a partir do qual tudo pode, mais uma vez, começar.

Poemas escolhidos:

A ÁRVORE DOS DESEJOS

Recordei-a como a árvore dos desejos que morreu
E vi-a subir, inteira, até ao céu,
Deixando um rasto de tudo o que se cravara

Por cada carência, uma e outra vez, na têmpera
Da sua casca e sâmago: moeda, alfinete e prego
Desfraldaram dela como uma cauda de cometa

Recém-cunhada e dissolvida. Tive uma visão
De uma ramada aérea atravessando húmidas nuvens,
De rostos erguidos, onde a árvore estivera.

Seamus Heaney
tradução de Rui Carvalho Homem

*

O FRAGMENTO

"Veio a luz do oriente", cantava ele,
"radiosa garantia de Deus, e as ondas aquietaram-se.
Eu podia ver línguas de terra e rochedos acossados.
Muitas vezes, pela coragem mostrada, o fado poupa o homem
se não o marcou já."

E quando a objecção deles lhe foi dita -
em especial que a sua obra se fizera em fragmentos,
que já não podiam dizer onde estavam com ele,
que já não distinguiam primeira linha ou última linha -
respondeu com uma questão.
"Desde quando", perguntou,
a primeira e a última linha de qualquer poema
são onde o poema principia e termina?"

Seamus Heaney 
tradução deVasco Graça Moura

*


A DIFICULDADE INGLESA

Movia-me como agente secreto entre conceitos.
A palavra «inimigo» tinha a eficácia dental de um cortador de relva.
Era um ruído mecânico e distante
para além da opaca segurança, essa ignorância autónoma.
«Quando os alemães bombardearam Belfast eram as partes orangistas 
mais amargas as que pior foram golpeadas».
Encontrava-me no cimo dos ombros de alguém, levado através do 
pátio iluminado por estrelas para ver como o céu ardia sobre Anahorish.
Os maiores baixavam as suas vozes e se reacomodavam na cozinha
como se estivessem cansados depois de uma excursão.
Passado o apagão, a Alemanha cozinhava em cozinhas iluminadas 
por lâmpadas através da flanela desgastada, baterias secas, baterias 
húmidas, cabos capilares,  válvulas condenadas que chiavam e 
borbulhavam enquanto o sintonizador absolvia Stuttgard e Lepzig.
«É um artista, este Haw Haw. Podemos tranquilamente deixá-lo dentro»
E eu hospedava-me com os «inimigos do Ulster», espetados extramuros.
Um adepto ao contrabando cruzava as linhas com palavras de passo
cuidadosamente enunciadas, até que fizesse funcionar 
cada discurso nos controlos sem informar ninguém.  

Seamus Heaney
tradução de Pedro Calouste

*

Bibliografia inclui:

Poesia: obras principais

Poesia: colectâneas
Prosa: obras principais

  • 1980: Preoccupations: Selected Prose 1968-1978, Faber & Faber
  • 1988: The Government of the Tongue, Faber & Faber
  • 1995: The Redress of Poetry: Oxford Lectures, Faber & Faber
  • 2002: Finders Keepers: Selected Prose 1971-2001, Faber & Faber
Teatro
Edições Limitadas (prosa e poesia)
  • 1965: Eleven Poems, Queen's University
  • 1968: The Island People, BBC
  • 1968: Room to Rhyme, Arts Council N.I.
  • 1969: A Lough Neagh Sequence, Phoenix
  • 1970: Night Drive, Gilbertson
  • 1970: A Boy Driving His Father to Confession, Sceptre Press
  • 1973: Explorations, BBC
  • 1975: Stations, Ulsterman Publications
  • 1975: Bog Poems, Rainbow Press
  • 1975: The Fire i' the Flint, Oxford University Press
  • 1976: Four Poems, Crannog Press
  • 1977: Glanmore Sonnets, Editions Monika Beck
  • 1977: In Their Element, Arts Council N.I.
  • 1978: Robert Lowell: A Memorial Address and an Elegy, Faber & Faber
  • 1978: The Makings of a Music, University of Liverpool
  • 1978: After Summer, Gallery Press
  • 1979: Hedge School, Janus Press
  • 1979: Ugolino, Carpenter Press
  • 1979: Gravities, Charlotte Press
  • 1979: A Family Album, Byron Press
  • 1980: Toome, National College of Art and Design
  • 1981: Sweeney Praises the Trees, Henry Pearson
  • 1982: A Personal Selection, Ulster Museum
  • 1982: Poems and a Memoir, Limited Editions Club
  • 1983: An Open Letter, Field Day
  • 1983: Among Schoolchildren, Queen's University
  • 1984: Verses for a Fordham Commencement, Nadja Press
  • 1984: Hailstones, Gallery Press
  • 1985: From the Republic of Conscience, Amnesty International
  • 1985: Place and Displacement, Dove Cottage
  • 1985: Towards a Collaboration, Arts Council N.I.
  • 1986: Clearances, Cornamona Press
  • 1988: Readings in Contemporary Poetry, DIA Art Foundation
  • 1988: The Sounds of Rain, Emory University
  • 1989: An Upstairs Outlook, Linen Hall Library
  • 1989: The Place of Writing, Emory University
  • 1990: The Tree Clock, Linen Hall Library
  • 1991: Squarings, Hieroglyph Editions
  • 1992: Dylan the Durable, Bennington College
  • 1992: The Gravel Walks, Lenoir Rhyne College
  • 1992: The Golden Bough, Bonnefant Press
  • 1993: Keeping Going, Bow and Arrow Press
  • 1993: Joy or Night, University of Swansea
  • 1994: Extending the Alphabet, Memorial University of Newfoundland
  • 1994: Speranza in Reading, University of Tasmania
  • 1995: Oscar Wilde Dedication, Westminster Abbey
  • 1995: Charles Montgomery Monteith, All Souls College
  • 1995: Crediting Poetry: The Nobel Lecture, Gallery Press
  • 1997: Poet to Blacksmith, Pim Witteveen
  • 1998: Commencement Address, UNC Chapel Hill
  • 1998: Audenesque, Maeght
  • 1999: The Light of the Leaves, Bonnefant Press
  • 2001: Something to Write Home About, Flying Fox
  • 2002: Hope and History, Rhodes University
  • 2002: Ecologues in Extremis, Royal Irish Academy
  • 2002: A Keen for the Coins, Lenoir Rhyne College
  • 2003: Squarings, Arion Press
  • 2004: Anything can Happen, Town House Publishers
  • 2005: The Door Stands Open, Irish Writers Centre
  • 2005: A Shiver, Clutag Press
  • 2007: The Riverbank Field, Gallery Press
  • 2008: Articulations, Royal Irish Academy
  • 2008: One on a Side, Robert Frost Foundation
  • 2009: Spelling It Out, Gallery Press
Traduções:

Sobre a obra de Seamus Heaney

Discografia

*

Artigo de Sylvia Beirute 

2 comentários:

  1. difícil decifrar mas fácil entender

    ResponderEliminar
  2. Heaney é sublime! E o seu blog tambem, Sylvia. Posso visitar-lhe com mais frequencia? Espero que sim.
    Até mais

    ResponderEliminar