A beleza na poesia, e na arte em geral, é um tema que me interessa, uma vez que permite um debate vivo e com argumentos de diversa ordem. Hoje acordei com uma mensagem do João Bosco da Silva em que este se referia a este poema que escreveu, no qual demonstra toda a sua frustração perante uma das inúmeras designações para se dizer que uma coisa tem valor. Também não gosto de poesia "bonita", mas busco incessamentente a beleza das coisas para que a transporte e transforme em poesia. Parece a mesma coisa. Parece. De todo o modo, esse poema do João Bosco da Silva fez-me recordar este que escrevi para o último número da Revista Inútil em que me refiro, entre outras coisas, à valorização da arte e a um modo de vida:
CONOSCENZA
{o teu reconhecimento é a tua dependência},
não o deixes passar da fase da costura.
surge. insurge. inespera.
adquire expressões através do
eco difuso dos vegetais, coloca-te
nas ranhuras da madeira.
há uma vida imprópria algures.
pode não ser como aquela que espera
na plumagem de uma memória
por antecipação, mas protege o silêncio
e não deixa coagular o sangue.
{o teu reconhecimento é a tua dependência},
e quanto mais o memorizares
mais afastado estarás
dos lados obtusos de quem te deseja habitar
e da semântica temporal
das pessoas que te pedirão um
poema bonito,
e nada pior do que escrever
um poema bonito.
Sylvia Beirute
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