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terça-feira, 5 de outubro de 2010

ISA MESTRE - DUPLICADO - TEXTO


















DUPLICADO

Estamos todos tão sós. E fingimos que nos importamos, e fingimos que nos amamos, e fingimos , e fingimos, e fingimos. Fechados em esferas de solidão e egoísmo, papagaios falantes que só se ouvem a si próprios.
Papagaios falantes. Os outros apenas espelhos de que precisamos para nos revermos, para nos conhecermos, para nos amarmos.
E acreditamos na amizade, na ilusão de que não estaremos sós quando tudo acabar. Acreditamos que haverá uma voz, uma voz que não chega nunca. Uma voz que tem sempre mais que fazer. Uma voz que te diz,
- gosto de ti,
Quando desconhece que só pode gostar de si mesma. Que só sabe gostar de si mesma.
E no dia seguinte a mesma voz dirá que lamenta, que está aqui para tudo. Só a voz. Apenas a voz.
Continuo sozinha. Rodeada de vozes. Máscaras da mais profunda solidão.
Pergunto-te,
- quando vens?
E tu pões novamente o disfarce. A treta de que somos todos muito amigos.
E eu finjo. Sinto-me grata por não estares aqui. Penso que nem me farias falta nenhuma. Basta a voz. A voz. A voz.
O telefonema sentido ao final do dia, as perguntas de sempre, as respostas de ontem que já conhecerás amanhã.
Sentes-te confortável. Preocupas-te comigo, dizes.
Mas não vens, não vens nunca. E se um dia te disser que o amor é uma merda hás-de achar-me ingrata, hás-de jurar que telefonaste todos os dias.
E eu hei-de rir-me. Porque me bastam as vozes.
Gosto tanto de estar só. 

Isa Mestre
retirado daqui.

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