Entrando no assunto da construção do poema, discussão benignamente gerada na qualidade de alguns blogues do sul, deixo um contributo que pretende focar a génese.
POEMA E POESIA: TENTATIVA DE DISTINÇÃO
contributo pessoal
É curial a distinção nos dias de hoje, mais do que antigamente, entre poema e poesia. Costumo distinguir estas duas realidades tomando a análise dos versos do poema (o poema enquanto conjunto de versos). Para mim um poema contém poesia se cada um dos seus versos, tomado isoladamente, de certa forma contrariar o tema do poema e conseguir ter uma existência autónoma. Caso não o consiga, muito provavelmente esse verso terá uma linha muito recta entre si e o seu único significado e a probabilidade de não conter poesia é grande.
Gosto de entender a poesia, separando-a definitivamente da prosa, enquanto contraficção. O que quero dizer é tão-somente isto: a vida impõe-nos uma ficção mais ou menos consciente: vamos para o trabalho, deparamo-nos com as mais variadas situações do dia-a-dia, há uma gestão pessoal que nos é, mais ou menos, imposta, há gente bem intencionada, gente mal intencionada no nosso caminho, etc. A poesia, enquanto momento de libertação, pode ser uma contra-resposta pessoal em termos de reequilíbrio do cérebro e emoções. Será essa contraficção. Mas esta contraficção pode e deve fugir à frieza da realidade em estado puro; pode e deve, também, conter elementos de nova ficção, de fantasia, do poético como o defini acima, da realidade que se superioriza em altura, dentro de uma linguagem que pretende descobrir o oculto, o longínquo. Talvez a diferença entre poema e poesia se resuma, afinal, a um «ver ao perto», no caso do poema que não participa da poesia como a configurei, e a um «ver ao longe», no caso da poesia propriamente dita, a mesma que pode ser encontrada no interior de um poema ou noutro qualquer texto.
Sylvia Beirute
Boa contribuição.
ResponderEliminarTento ser um pouco mais tradicional, entendendo poesia como ideia, sentimento (ou qualquer outra matéria "menos densa") que pertence à bagagem humana, ainda que de forma velada.
Entendendo poema como tentativa realização (materialização) dessa poesia.
Entendendo, ainda, a mim como poeta e não como um teórico literário, favor desconsiderar os entendidos anteriores.
Obrigado pela sua visão!
Felicidades!
Entrei no tema... bjs
ResponderEliminarhttp://diariodedetrasii.blogspot.com/2010/10/20.html