É fácil manter o blogue poeticamente interessante quando se tem o incansável Pedro Calouste, a quem agradeço a tradução do poema que se segue, da autoria do poeta irlandês William Butler Yeats. A Segunda Vinda (The Second Coming) é um dos mais importantes poemas da poesia moderna, usando de um vocabulário cristão que remete para o Apocalipse, sendo que esta segunda vinda é uma alegoria para descrever a atmosfera do pós-guerra europeu. Por aquilo que se vive actualmente, com incidência na economia mundial e prementemente na irlandesa, creio que a leitura deste poema faz hoje todo o sentido.
THE SECOND COMING
TURNING and turning in the widening gyre
The falcon cannot hear the falconer;
Things fall apart; the centre cannot hold;
Mere anarchy is loosed upon the world,
The blood-dimmed tide is loosed, and everywhere
The ceremony of innocence is drowned;
The best lack all conviction, while the worst
Are full of passionate intensity.
Surely some revelation is at hand;
Surely the Second Coming is at hand.
The Second Coming! Hardly are those words out
When a vast image out of Spiritus Mundi
Troubles my sight: somewhere in sands of the desert
A shape with lion body and the head of a man,
A gaze blank and pitiless as the sun,
Is moving its slow thighs, while all about it
Reel shadows of the indignant desert birds.
The darkness drops again; but now I know
That twenty centuries of stony sleep
Were vexed to nightmare by a rocking cradle,
And what rough beast, its hour come round at last,
Slouches towards Bethlehem to be born?
A SEGUNDA VINDA
GIRANDO e girando na espiral que se amplia
O falcão não consegue ouvir o falcoeiro;
As coisas dissolvem-se; o centro não segura;
A mera anarquia é dissipada para o mundo,
A maré escura de sangue é perdida, e em qualquer lugar
A cerimónia da inocência se afunda;
Aos melhores lhes falta toda a convicção, enquanto os piores
Estão plenos de intensidade apaixonada.
Certamente alguma revelação estará à mão;
Certamente A Segunda Vinda estará à mão.
A Segunda Vinda! Mal saem estas palavras
e uma larga imagem vinda do Spiritus Mundi
Perturba a minha visão: algures nas areias do deserto
Uma forma com corpo leonino e cabeça de homem,
Um olhar fixo em branco e impiedoso como o sol,
Faz mover-lhe as coxas lentas, enquanto sobre ela
Oscilam sombras de pássaros indignados do deserto.
A escuridão cai de novo; mas agora sei
Que vinte séculos de um sono pedregroso
Se precipitaram no pesadelo por um berço que embala.
E qual besta em fúria, a sua hora vem por fim,
Arrastar-se-á até Belém para nascer?
William Butler Yeats
Tradução de Pedro Calouste
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Perturbador, Sylvia.
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