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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

HERTA MÜLLER: TUDO O QUE EU TENHO TRAGO COMIGO
























Herta Müller (Niţchidorf, Timiş, 17 de agosto de 1953) consegue narrar uma história sem perder de vista o conceito do poético, da excelência de uma beleza que está para além dos olhos, sequer dos sentidos. A escrita desta Nobel da Literatura é fragmentária, fazendo-me lembrar, aqui ou ali, a escrita de Gonçalo M. Tavares, até pela recorrente opção das frases curtas implicando no leitor um corte de respiração ou a constante surpresa da oração seguinte.


Eu andava à caça.
O Kobelian andava pelas redondezas e eu, no segundo Outono iminente, matei um cão de toca na estepe com a minha pá. O animal soltou um breve assobio, como o comboio. Como os segundos se arrastam, quando a testa se racha na diagonal acima do focinho. Hássofer. De lebre ferida.
Queria comê-lo.
Aqui só há erva. E com erva não se pode pregar nem prender, e com pá nada se pode esfolar. Não tive os instrumentos, nem a coragem. Também não tive tempo. O Kobelian estava de volta e assistiu à cena. Por isso, deixei-o ficar no chão, tal e qual. Como os segundos se arrastam quando a testa se racha na diagonal acima do focinho. Hássofer. De lebre ferida.
Pai, uma vez quiseste ensinar-me como se responde com um assobio, quando alguém se perde.

Herta Müller
em Tudo o que eu tenho trago comigo
Dom Quixote
.

1 comentário:

  1. a sua escrita, mais do que a de GMT, lembra-me a de heiner muller (quer a teatral, quer a poética).

    abraço

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