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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

JOÃO MIGUEL FERNANDES JORGE - POEMA - O RAPAZ DA SILVEIRA

























O RAPAZ DA SILVEIRA

O nome que lhe recordo confundia-se com o do casal
onde vivia e onde tinham os seus terra de lavoura. Foi
o meu companheiro de carteira ao tempo da escola.
... Quatro anos sentados lado a lado. Os meus
pés não chegavam ao chão na primeira classe, ele
mais alto, mais cedo entregue ao duro trabalho da vida

procurou-me um dia, com uma prenda de fruta, já
eu andava nos primeiros anos do liceu. Fui orgulhoso,
não aceitei a sua mão estendida
por anos e anos trago por remorso a sua pele –
sombra de seda queimada pelo sol dos campos, breve
canção de marfim. Contra ele, e por ele,

não lhe dirigi a palavra e dele me esqueci durante anos
se o vi na rua da vila, passei sumariamente para o
outro lado, baixei os olhos no refúgio do que não perdoo
a ninguém, reles instinto de classe pequena
ele que me procurara com uma cesta de verga

legumes e fruta. Antes que chegue a face de janeiro
lembro-me da pele intensa que era a dele
sentado ao meu lado nos bancos da infância
(o que está feito, feito está) «tenho frio», fizera
alguns quilómetros, manhã cedo, para aprender as contas
e os rios; eu, a escassos metros de tudo isso

quando me defendo das cinzas húmidas do inverno
lembro-me da pele intensa que era a dele (deixem-me
repetir o verso)
nesses momentos ninguém está mais perto de mim
sentado ao meu lado no banco da infância.

João Miguel Fernandes Jorge
em Termo de Óbidos
Relógio D’Água
.

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