Muito coerente e regular a obra de Jan Wagner, poeta alemão, nascido em 1971, em Hamburgo. Gosto destes ambientes do quotidiano, desde que daí se possa extrair algo mais do que a objectividade das imagens, do relato nostálgico de um passado. Neste Cogumelos, que me passou o Pedro Calouste, há como que um passado que se faz presente, apresentando-se como paralelo a ele, impondo por vezes o seu ritmo, os seus gostos. Para quem não gostar deste tipo de poesia, pelo menos que lhe abra o apetite. Bom almoço.
COGUMELOS
encontramo-los num clarão do bosque,
duas expedições atravessando o crepúsculo
e olhando-se em silêncio. entre nós, inquieto,
o zumbido telegráfico do enxame de mosquitos.
a nossa avó era famosa por sua receita
de cogumelos recheados. levou-a inclusive
à tumba. ao rechear o que não é bom, dizia,
há que pôr muito pouco de outras coisas.
mais tarde, na cozinha, levávamos
os fungos ao ouvido e misturávamos o molho,
esperando o suave estalido no seu interior,
tentando encontrar a combinação.
Jan Wagner
Tradução de Pedro Calouste
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