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terça-feira, 24 de setembro de 2019

INSULTA-ME O PANO VERMELHO


















INSULTA-ME O PANO VERMELHO

Insulta-me o pano vermelho. Não pude
deixar de transitar de mercadoria em mercadoria.
Sou uma moeda voando no ar
entre sorte e a sede. Não pude deixar
de repetir gestos de medo,
sou os milhões de rostos do tempo
nos umbrais dos dias
e na incerteza dos enigmas.
E sinto que qualquer alicerce de mim
é contaminado
pelos espelhos das palavras que mais urgem,
pelas frases mais remotas.
Penso como um peixe pronto para a paisagem marítima,
um louco irrompendo pelo meu próprio peito,
pela preguiça dos dedos
estendidos sobre os teclados mais infinitos.
Penso como se escrevesse
como se pudesse escrever
como se tudo me escrevesse
na travessia húmida dos sonhos.
Insulta-me o pano vermelho,
o envelope na mão,
o conteúdo de tudo o que parte para um universo
como areia solta.

Sylvia Beirute 
inédito

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