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domingo, 28 de março de 2010

Um poema de Orlando Mendes - Visão Temporal



















VISÃO TEMPORAL

Na minha cidade
De semiarranha-céus vivendas e palhotas
A baía onde de longe chegam navios
É um estuário revolto de sete rios
Mistura larga de água sal e matope
Em que poderiam afogar-se as almas
Na impureza mística das crenças mais antigas.
Mas hoje a baía está serena e tão azul
Que não tem nada com as mudanças ríspidas do céu
Arena de luta entre o sol e as nuvens.
Nos bazares dos passeios as vendedeiras
Que vêem o mar numa distante miragem
E nunca lá salgaram os corpos
Até ao crescer da noite mercadejam suas candongas
Por leite para os filhos e cerveja para os maridos
E talvez por cabeleiras de missangas
Para ornar as próprias cabeças.
Passo no meio dos silêncios e não sei contá-los
Porque atrás de mim circulam os hálitos
Das esperanças que ainda respiro
E medem os passos da certeza sempre em diante.
Minha cidade cocegada pelo mar híbrido
Que ruge oceano depois de rasgar a barra.

Orlando Mendes
Em Nunca Mais é Sábado,
Antologia de Poesia Moçambicana
Organização e Prefácio de Nelson Saúte

Orlando Marques de Almeida Mendes nasceu em 1916 a Ilha de Moçambique. Poeta, romancista, dramaturgo, foi uma figura marcante da literatura moçambicana, tendo traçado alguns dos contornos que caracterizam a moderna literatura de Moçambique.

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