A ENERGIA
A «energia», enquanto vocábulo presente na obra de Herberto Helder, tem uma assiduidade relativamente reduzida. Porém, a sua capacidade de representação ultrapassa os limites do vocábulo e concretiza-se violentamente na osmose entre todas as palavras do verso, no transbordar dos sentidos de palavra para palavra, na relação semântica absolutamente imprevista, na própria hifenização e translineação do verso, na combinação entre versos longos e brevíssimos (por vezes compostos por uma ou duas sílabas de uma palavra). Para além dessa relação aparentemente forçada dos vocábulos, a sua selecção num espaço primário - na medida em que normalmente se encontram os referentes associados a relações com o corpo e com a terra - reforça a imagem de pura energia, de violência, de um contacto bruto com as coisas, de modo a conviver com esse excesso de vida que ainda não foi diluído no sentido culturalmente correcto que procura sempre homogeneizar e não distinguir.
João Amadeu Carvalho da Silva
em A Poesia de Herberto Helder -
Do Contexto ao Texto: uma palavra
sagrada na noite do mundo
Fundação Calouste Gulbenkian
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