A MÚMIA – OU ALQUIMIA DO AMOR
Quem, mais fundo do que eu, escavou a mina do amor,
Dirá onde reside a sua cêntrica felicidade.
Eu tenho amado, e possuído, e contado,
Mas devesse eu amar, possuir, contar até ser velho
Que nunca encontraria esse mistério oculto.
Oh, é tudo impostura:
Tal como nenhum alquimista conseguiu ainda o Elixir,
Mas glorifica o seu poste prenhe,
Se por acaso daí lhe advém
Qualquer coisa odorífera ou medicinal.
Assim os amantes sonham um rico e longo deleite,
Obtendo apenas uma invernosa noite de verão.
Nossa confiança, sobriedade, honra, e nosso dia
Deveremos nós pagar por esta vã nuvem de ilusão?
Acaba nisto o amor – que o meu criado
Possa ser tão feliz como eu, se conseguir
Suportar o breve desdém de uma farsa nupcial?
Aquele infeliz amante que jura
Não serem os corpos a desposar-se, mas as mentes,
- E tão angélica que a dela parece! –
Juraria com igual certeza que ouve as esferas
Nas rudes e desafinadas cadências desse dia.
Não esperem inteligência nas mulheres. No seu melhor
Possuem doçura e esperteza, não são mais que Múmias.
John Dunne
Em Poemas Eróticos
Assírio e Alvim
Trad. de Helena Barbas
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