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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Poesia de Vanguarda em Língua Portuguesa: Portugal e Brasil



















POESIA DE VANGUARDA EM LÍNGUA PORTUGUESA: Portugal e Brasil

A poesia portuguesa contemporânea, mesmo entre maioria dos jovens poetas, é sobretudo uma poesia de retaguarda. O termo vanguarda deve ser justamente reservado para boa parte da poesia brasileira, e nem sequer é preciso recuar ou avançar muito. Ela tem estado lá há muito tempo e tem-se feito acompanhar dos tempos, paralelizando-se a eles, às evoluções, aproveitando a cultura rica e diversificada, de lugar para lugar, inserindo este último elemento cirúrgica e subtilmente na criação artística.

Parece-me que nos falta, em geral, correr riscos em Portugal. Mas ainda há quem os corra. Poetas como Fernando Aguiar ou Luís Serguilha são mais valorizados lá fora, o primeiro com o nicho do audiovisual e algum concretismo, o segundo com o seu carrossel poético, do que propriamente no seu país; os mais novos e de muito valor, a meio caminho do que digo (Alice Macedo Campos, André Domingues, Pedro Ludgero, Carlos Vinagre, etc) têm o seu lugar na clandestinidade de pequenas edições ou em revistas do género, ainda assim fazendo as delícias de verdadeiros apreciadores que "catrapiscam" estas criações e as estimam como relíquias.

O mais estranho é usar-se o termo «vanguarda» com frequência sem se fazer a mínima ideia do que se diz, a não ser, claro, se se estiver a usar o termo em sentido militar. Para Haroldo de Campos, “Na poesia de vanguarda, o poeta, além de exercitar aquela função poética por definição voltada para a estrutura mesma da mensagem, é ainda motivado a poetar pelo próprio acto de poetar, isto é, mais do que por uma função referencial ou outra, ele é complementarmente movido por uma função metalinguística: escreve poemas críticos, poemas sobre o próprio poema ou sobre o ofício do poeta.”

No Brasil há, desde logo, o incontornável Manoel de Barros, com a sua «vanguarda primitiva», a vanguarda do uso anormal das palavras simples, dos contextos mudados, da alteração subtil do peso das coisas, a coisificação do homem, a humanização das coisas, realidades alegóricas que realizam aquilo que é essencial ao leitor: sentir.

Nicolas Behr é bastante interessante e encontro nessa poesia aquilo que procuro: a surpresa do verso seguinte, novas fórmulas para o acto poético, a integração de uma realidade noutra, como se ambas se fundissem e dessem origem a uma só. Iogurte com Farinha, datado de 1977, é um livro que respeita o que digo.

Outros exemplos haveria, tais como Paulo Leminski, Camargo Meyer (menos conhecido entre nós), etc.

Na novíssima poesia do Brasil há um conjunto de autores muito interessantes, todos eles muito individualistas (no mais correcto sentido do termo), todos experimentando os eus que a poesia permite e sua elasticidade, e usando das diversas formas ou formulações. Veja-se Juliana Krapp, Ricardo Domeneck, Fabiano Calixto, Dirceu Villa, Claudio Daniel, Carlito Azevedo, Walter Gam (também artista plástico), Marília Garcia, Angélica Freitas, Francieli Spohr, entre tantos outros.

Voltando a Portugal, há o case study de Herberto Helder, talvez o mais radical poeta destes todos que citei, apreciado ou respeitado em todo o país, vanguardista por excelência, assumindo-se como certo (ou próximo disso) o conceito de Haroldo de Campos.  
Há um certo «complexo de Herberto Helder». Há aqueles que gostam do poeta, os que não gostam, os que não gostam mas sabem que deveriam gostar, os que não gostam mas sabem que lhes faria bem gostar; há o caso do grupo surrealista de Lisboa, que não tem, no entanto, em meu entender, servido de base para as criações poéticas do presente. 

Acredito que precisamos de uma explosão. Talvez o meio digital o favoreça, o antecipe. Este meio tem a vantagem de conservar a criação, ainda que, nalguns casos, toscamente. Ainda assim contribui para democratizar o futuro, e um dia, quem sabe, refazer a história. É que há casos pontuais de excelência por esta blogosfera fora, despercebidos à maioria dos leitores de hoje.

Sylvia Beirute

3 comentários:

  1. Curioso você botar esse texto justo agora. No meu blog, recebi um comentário de um cara, que não teve a coragem de se identificar, que ficou nervoso por eu ter criticado Leminski. Foi um comentário engraçado, idiota mas engraçado. E agora seu texto surge. Na minha opinião, está uma onda de valorizar o que não é bom. Acredito que porque quem dá tal valor não entenda, ou não consiga entender, poetas mais complexos e de mais qualidade, como, no Brasil, Bruno Tolentino, por exemplo, ou mesmo simples, mas de um lirismo maravilhoso, como Manuel Bandeira. Em Portugal poderíamos citar António Nobre. Mas enfim. Vai saber. De qualquer forma, acho incrível valorizarem Leminski ou aquele Behr (de quem falei noutro post) em detrimento de Bandeira e Anto, por exemplo. Pois a diferença, de aqueles não serem poetas e estes sim, é nítida. Mas, como eu disse, talvez seja a falta de visão das pessoas.

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  2. Olha, acho que esse tal Rodrigo Della Santina tem uma mente muito antiquada. O Bruno é Bom, feito a Bayer. Mas nasceu antes do Modernismo. Leminsky é de depois das vanguardas. Pós-moderno ou Segunda vanguarda. Não dá pra comparar cebolas com pêssegos. São coisas muito diferentes. Há quem goste da duas coisas ou de nenhuma. Provavelmente o distinto não goste de Manoel de Barros, o melhor do Brasil, vivo, sem dúvida. E um poeta que só parece simples para quem é burro pacaramba. Talvez não conheça João Cabral, o melhor do Brasil, morto. E usava métrica, muito mais criativamente que o Tolentino, muito antes dele (e nasceu depois das vanguardas, sendo vanguarda).
    Meu amigo Rodrigo Da Santinha: Leminsky disse:
    "Nascemos em poemas diversos".
    Mas há quem nã entenda diversidade.
    Você, meu amigo, tem a mesma atitude provocadora de um vanguardista. Porém, é um retaguardista.

    Adrián de Limes, poeta e tradutor brasileiro.
    poetargs@bol.com.br

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