POEMA PARA A EXORCISTA
A minha vida aparece sem condão e
monótona
aos que me vêem
no trabalho árduo da oficina
em manhãs apuradas.
A verdade é muito distinta.
Cada noite eu saio e discuto
contra um espírito malévolo
que, se valendo de
máscaras - cão, grilo,
nuvem, chuva, vagabundo,
ladrão - trata de
se infiltrar na cidade
para estragar a vida humana
semeando
a discórdia.
Apesar dos seus disfarces
sempre a descubro
e a espanto.
Nunca conseguiu enganar-me
nem vencer-me.
Graças a mim, nesta cidade
ainda é possível
a felicidade.
Mas os combates nocturnos
deixam-me exausta e ferida.
E para compensar a minha
guerra contra o inimigo,
peço uns restos
de afecto e de amizade.
Mario Vargas Llosa
inédito
Nova Iorque
novembro de 2001
versão de Pedro Calouste
Parabéns pelo bom trabalho de divulgação e de actualização literária e artística.
ResponderEliminarExorcistas e demónios somos todos, um pouco...
Bem-hajas, Sylvia Beirute.
Justo. Llosa merecia este prêmio.
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