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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

PAIS E FILHOS

















Acho perigosas as generalizações, excepto se essas generalizações se reportarem a uma experiência pessoal, ainda que vivida indirectamente. Creio que é o que acontece no texto que abaixo coloco a itálico, de cujo conteúdo, no entanto, não subscrevo na íntegra. De qualquer das formas, é comovente a forma como está escrito, a sensação de autenticidade que conseguiu passar, os arrepios que me causou.


Aquando do divórcio o mais difícil para mim foi perceber que o meu filho nunca teria o pai e a mãe juntos. Sentir que de alguma forma, constituir uma nova família seria roubar-lhe o pai duplamente. Isto talvez seja mais fácil para os pais que vivem maioritariamente com a criança, mas para aqueles que ficaram com dias no calendário para estar com o filho e uma série de regras e restrições, o sentimento de abandono, do lar, do filho, de ser pai a tempo inteiro, é uma perda que se sente quase irreparável. Na altura disse a mim mesmo que não teria outro filho. Que já tinha um e que não lhe podia roubar o amor entregando-o a outra criança. A criança abstracta que não amo. A criança sem data de nascimento, sem nome, sem corpo que tenha que cuidar. O filho de uma mãe que não conheço. As mulheres talvez queiram os filhos pelos filhos. É frequente ouvi-las dizer, ainda quando solteiras, que querem ter um filho, que querem ter uma catrefada deles, que deixaram um homem por este não querer ter nenhum. Mas os homens, se não todos pelo menos este, quer a mulher primeiro. E com a mulher então, daquela mulher, quer filhos. Quer um ou dois ou mais. Quer com aquela mulher filhos porque isso realizará ainda mais as virtudes do amor um pelo outro. Hoje sei que se essa mulher aparecer eu poderei querer voltar a ter filhos. Filhos de uma mulher que ame, porque só desse amor me podem nascer. Foi assim que o meu primeiro veio ao mundo, com o nome e o corpo da mulher que amava. Só de uma mulher que conheça e ame posso querer filhos. Não pelos filhos em si, mas pela mulher ela mesma.

2 comentários:

  1. Este texto, realmente, causa arrepios. Diria que este «pai» está muito confuso no seu (dele) papel.

    i. «Que já tinha um e que não lhe podia roubar o amor entregando-o a outra criança.»

    ii. «Não pelos filhos em si, mas pela mulher ela mesma.»

    Aterra-dor, diria!
    O filho como instrumento que virtua o que este «pai» designa por amor entre um homem e uma mulher. Penso o que acontecerá a «este amor de pai» quando terminar o amor pela mãe.
    Autêntico na expressão, concordo que o seja, mas é duma pobreza-d'amar-que-horroriza.

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  2. Obrigado pelo destaque, Sylvia. Também não gosto de generalizações. Acho que o deu porque, mesmo não concordando, entendeu bem o que nele se diz. Quanto ao comentário, não vou responder, acho que não me compete julgar os juízes.

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