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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

MARIA QUINTANS - CHAMA-ME CONSTANÇA













Chegava a manhã e tu mantinhas a porta em segredo de fechadura completamente escancarada à espera dos pássaros. Eu nunca dizia nada. Era menos seguro aprender a lição dos poetas que vagueavam lá por casa à espera de uma sopa quente e de cobertores para aquecer as amarguras. Nunca dizia nada. Nada mesmo. Trazia os cobertores e tapava os poetas. Aquecia-lhes a sopa que tinhas preparado com nabos e cenouras compradas na mercearia do outro, aquele que tinha nas barbas uma mão-cheia de palavras. Eu alimentava os poetas e desenhava-lhes a colher no guardanapo enquanto o desespero me contornava a nuca. Eles comiam e ficavam quietos. Tu ficavas com a satisfação dos grandes a desbravar sons nas cordas dos violinos. Eu acabava de acender o canto do cão e ele enroscava-se nas pernas. Os poetas adormeciam e eu acendia o candeeiro ao pé da tua mão e lia-te um pedaço de papel escrito por eles. Dizias que era bonito e o cão ressonava. Levantava-me e escorria sangue pela parede do quarto. 

Maria Quintans
em Chama-me Constança
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