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quarta-feira, 9 de março de 2011

INFÂNCIA - POEMA - SYLVIA BEIRUTE

























INFÂNCIA

hoje memoriza o ontem na estação calma. 
o esquecimento vem do futuro 
até ao dia de hoje.
a fronteira aqui descrita é uma vigilância 
crepuscular  nos ossos. o amanhã será uma galeria 
inacabada de infâncias que descansam defronte os olhos 
de uma criança convulsiva 
com olhos de sonho desfeito. 
a colheita de palavras faz-se para lá do tempo, 
para lá do mundo, por baixo da voz.
a saúde é um abismo imóvel 
na esperança de pálpebras invisíveis.

Sylvia Beirute
inédito
.

1 comentário:

  1. Pátria Minha
    Vinicius de Moraes

    A minha pátria é como se não fosse, é íntima
    Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
    É minha pátria. Por isso, no exílio
    Assistindo dormir meu filho
    Choro de saudades de minha pátria.

    Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
    Não sei. De fato, não sei
    Como, por que e quando a minha pátria
    Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
    Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
    Em longas lágrimas amargas.

    Vontade de beijar os olhos de minha pátria
    De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
    Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
    De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
    E sem meias pátria minha
    Tão pobrinha!

    Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
    Pátria, eu semente que nasci do vento
    Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
    Em contato com a dor do tempo, eu elemento
    De ligação entre a ação o pensamento
    Eu fio invisível no espaço de todo adeus
    Eu, o sem Deus!

    Tenho-te no entanto em mim como um gemido
    De flor; tenho-te como um amor morrido
    A quem se jurou; tenho-te como uma fé
    Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
    Nesta sala estrangeira com lareira
    E sem pé-direito.

    Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
    Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
    E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
    Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
    À espera de ver surgir a Cruz do Sul
    Que eu sabia, mas amanheceu...

    Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
    Amada, idolatrada, salve, salve!
    Que mais doce esperança acorrentada
    O não poder dizer-te: aguarda...
    Não tardo!

    Quero rever-te, pátria minha, e para
    Rever-te me esqueci de tudo
    Fui cego, estropiado, surdo, mudo
    Vi minha humilde morte cara a cara
    Rasguei poemas, mulheres, horizontes
    Fiquei simples, sem fontes.

    Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
    Lábaro não; a minha pátria é desolação
    De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
    E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
    Que bebe nuvem, come terra
    E urina mar.

    Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
    Uma quentura, um querer bem, um bem
    Um libertas quae sera tamem
    Que um dia traduzi num exame escrito:
    "Liberta que serás também"
    E repito!

    Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
    Que brinca em teus cabelos e te alisa
    Pátria minha, e perfuma o teu chão...
    Que vontade de adormecer-me
    Entre teus doces montes, pátria minha
    Atento à fome em tuas entranhas
    E ao batuque em teu coração.

    Não te direi o nome, pátria minha
    Teu nome é pátria amada, é patriazinha
    Não rima com mãe gentil
    Vives em mim como uma filha, que és
    Uma ilha de ternura: a Ilha
    Brasil, talvez.

    Agora chamarei a amiga cotovia
    E pedirei que peça ao rouxinol do dia
    Que peça ao sabiá
    Para levar-te presto este avigrama:
    "Pátria minha, saudades de quem te ama...
    Vinicius de Moraes."

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