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segunda-feira, 18 de julho de 2011

O ÚLTIMO POEMA SOBRE AS PALAVRAS - SYLVIA BEIRUTE


















O ÚLTIMO POEMA SOBRE AS PALAVRAS

as palavras sabem todas ao mesmo. a esta solidão aberta ao meio 
por uma tristeza estética.  onde estou? onde influí 
na capacidade de reparar o erro? rasguei a página 
para ocultar o erro. as palavras servem para provar a outras palavras 
que aquelas e estas sabem ao mesmo. 
e se na mesma tarde, se na mesma lambida, se debaixo dos mesmos cotovelos. 
as palavras influem na minha capacidade de perder as capacidades 
que engulo e sinto. o corpo cerca o impossível. a poesia é uma coisa do corpo. 
nada mais. tão regional e irregular quanto um estômago, uns seios, um pénis. 
e são as suas deformações, contudo, que a elevam ao nível da cabeça. 
como um objecto lúcido. como uma voz que vem de cima.  
e há um todo algures. um bloco que nada tem de ver com palavras. 
se estão estas, podiam estar outras palavras ou olhos vivos
como o nexo mais primitivo. não importa. assim como em vez 
de estarem dedos podia estar o queixo. porque tudo toca. 
tudo o que tem expectativa e pele. e o poema tem pele. 
a matéria da pele é o seu ímpeto, o seu maquinismo emocional.
os bons poemas dispensam as palavras
como alguém que diz adeus. 

Sylvia Beirute
inédito
.

5 comentários:

  1. Concordo contigo, sobretudo quanto ao penúltimo verso: o bom poema é aquele que diz muito em poucas palavras. É o poema enxuto. O poema-silêncio-olhar...

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  2. Sim, bons poemas não são palavras,são esculturas
    um órgão novo dentro do corpo,um coração novo.

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  3. OLá Silvia!!!
    Que poema!!! que prosa!!! que leitura tão linda que nos encanta desde a primeira palavra até à última!!!
    Adorei.
    Tomanel
    http://www.umraiodeluzefezseluz.blogspot.com

    ResponderEliminar
  4. ...Dá para reflectir!
    Vivências e sentimentos cruzam-se pelas palavras ditas, escritas, sentidas...

    SOL da Esteva
    http://acordarsonhando.blogspot.com/

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  5. Os bons poemas dispensam o adeus
    como alguém que diz adeus
    sem palavras.

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