POEMA PARA MÁRIO CESARINY
era uma coisa e depois disse que era outra.
tinha uma profissão esquisita.
consistia em desvendar a inspiração no interior da frase.
desvendar mas sem partir.
sem quebrar o passo e o ritmo.
e depois ele disse que via as estrelas das coisas,
todo o cinema e brilho secreto no espaço difuso.
um dia falou-me em paradoxos metafóricos
e eu assustei-me como se visse vísceras
no tabuleiro da vida.
e foi então que comecei a escrever.
peguei numa palavra e depois noutra e depois noutra.
as palavras não tinham grande significado para mim.
eram como pedras e possibilidades.
escrevi um poema. dois. três. muitos.
e um dia ele me roubou as grandes frases e deixou
as miudezas; tirou-me o macroscópio
e deu-me o seu microscópio de uma só lente
para que visse as células e demais estruturas minúsculas.
escrevi um poema sobre mim
com o poder de me fazer uma coisa e depois outra
e depois outra.
hoje pergunto-me quem sou
e de cada vez que o faço
um poema nasce. por si só. como que para o mestre
que nunca dorme em mim.
Sylvia Beirute
inédito
.
Fantástico Sylvia, emocionou-me. Cesariny merecia estar vivo para sentir este poema, um poema que é homenagem ao homem singular e à poesia.
ResponderEliminarObrigado
Vim "conhecer" a Sylvia Beirute e agradecer a visita.
ResponderEliminarVolto para comentar a sua obra.
realengo - a vida real -
ResponderEliminar( a pátria a(r)mada até os dentes )
a desmesura da pátria
é o pranto desvairado
do seu povo
sem prato nem comida
interpreta a própria
diáspora
o protesto plangente
estampa e referenda
os imprudentes - peregrinos -
não para o esplendor
dos abantesmas já transcritos
em reticulados relâmpagos
nem um po(l)vo retorcido
entre névoas de incêndios
mas o cenário mais profundo
desta perversa
vida
contra a bruteza
entre purpurinas senescentes
esplêndidas violetas plásticas
e agora sob um templo
entre os muros de lástimas
- cadáveres mínimos
recordo tantos outros
samurais carcomidos
de outrora
por um olhar insinuante
que desvela outra glória
atiça sua fúria espessa
sobre as cabeças - puríssimas -
enquanto lá fora a vida
desta pátria irreal chora
por todos os poros
no recinto que era branco
agora escarlate líquido
estão em silêncio os últimos
- infantes urbanos
somos todos
porcos-espinhos a devorar
a vida por entre os dentes
eu vi o mármore cinza
enegrecer de dor
(n)estes versos vivos
em que semeio estrelas
para que o horizonte
não seja causa perdida
by luiz gustavo pires
www.escarceunario.blogspot.com
MANUFATURA DE ESPELHOS
ResponderEliminaro poema que merece ser comentado,
nem que seja só pela emoção
capaz de nos silenciar
um poema imaginário
como tudo que dá imaginação
quadro manufacturado de espelhos
Assim
Adorei, juro!
ResponderEliminarCesariny ficaria orgulhoso, muito mesmo.
Continua a escrever, sempre, pois a poesia tem o poder de varrer o cinzento e de repor o azul imenso em seu lugar.
Beijinho
Ná