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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

POEMA PARA MÁRIO CESARINY - SYLVIA BEIRUTE




POEMA PARA MÁRIO CESARINY


era uma coisa e depois disse que era outra.
tinha uma profissão esquisita.
consistia em desvendar a inspiração no interior da frase.
desvendar mas sem partir.
sem quebrar o passo e o ritmo.
e depois ele disse que via as estrelas das coisas,
todo o cinema e brilho secreto no espaço difuso.
um dia falou-me em paradoxos metafóricos
e eu assustei-me como se visse vísceras
no tabuleiro da vida.
e foi então que comecei a escrever.
peguei numa palavra e depois noutra e depois noutra.
as palavras não tinham grande significado para mim.
eram como pedras e possibilidades.
escrevi um poema. dois. três. muitos.
e um dia ele me roubou as grandes frases e deixou
as miudezas; tirou-me o macroscópio
e deu-me o seu microscópio de uma só lente
para que visse as células e demais estruturas minúsculas.
escrevi um poema sobre mim
com o poder de me fazer uma coisa e depois outra
e depois outra.
hoje pergunto-me quem sou
e de cada vez que o faço
um poema nasce. por si só. como que para o mestre
que nunca dorme em mim.

Sylvia Beirute
inédito
.

5 comentários:

  1. Fantástico Sylvia, emocionou-me. Cesariny merecia estar vivo para sentir este poema, um poema que é homenagem ao homem singular e à poesia.

    Obrigado

    ResponderEliminar
  2. Vim "conhecer" a Sylvia Beirute e agradecer a visita.
    Volto para comentar a sua obra.

    ResponderEliminar
  3. realengo - a vida real -

    ( a pátria a(r)mada até os dentes )




    a desmesura da pátria
    é o pranto desvairado
    do seu povo

    sem prato nem comida
    interpreta a própria
    diáspora

    o protesto plangente
    estampa e referenda
    os imprudentes - peregrinos -

    não para o esplendor
    dos abantesmas já transcritos
    em reticulados relâmpagos

    nem um po(l)vo retorcido
    entre névoas de incêndios

    mas o cenário mais profundo
    desta perversa
    vida

    contra a bruteza
    entre purpurinas senescentes
    esplêndidas violetas plásticas

    e agora sob um templo
    entre os muros de lástimas
    - cadáveres mínimos

    recordo tantos outros
    samurais carcomidos
    de outrora

    por um olhar insinuante
    que desvela outra glória
    atiça sua fúria espessa
    sobre as cabeças - puríssimas -

    enquanto lá fora a vida
    desta pátria irreal chora
    por todos os poros

    no recinto que era branco
    agora escarlate líquido
    estão em silêncio os últimos
    - infantes urbanos

    somos todos
    porcos-espinhos a devorar
    a vida por entre os dentes

    eu vi o mármore cinza
    enegrecer de dor
    (n)estes versos vivos

    em que semeio estrelas
    para que o horizonte
    não seja causa perdida

    by luiz gustavo pires

    www.escarceunario.blogspot.com

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  4. MANUFATURA DE ESPELHOS

    o poema que merece ser comentado,
    nem que seja só pela emoção
    capaz de nos silenciar

    um poema imaginário
    como tudo que dá imaginação

    quadro manufacturado de espelhos
    Assim

    ResponderEliminar
  5. Adorei, juro!

    Cesariny ficaria orgulhoso, muito mesmo.
    Continua a escrever, sempre, pois a poesia tem o poder de varrer o cinzento e de repor o azul imenso em seu lugar.

    Beijinho

    ResponderEliminar