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sábado, 17 de setembro de 2011

A PRESSÃO DOS MERCADOS - NUNO JÚDICE - POEMA


























A PRESSÃO DOS MERCADOS

Emprestem-me palavras para o poema; ou deem-me
sílabas a crédito, para que as ponha a render
no mercado. Mas sobem-me a cotação da metáfora,
para que me limite a imagens simples, as mais
baratas, as que ninguém quer: uma flor? Um perfume
do campo? Aquelas ondas que rebentam, umas
atrás das outras, sem pedir juros a quem as vê?
É que as palavras estão caras. Folheio dicionários
em busca de palavras pequenas, as que custem
menos a pagar, para que não exijam reembolsos
se as meter, ao desbarato, no fim do verso. O
problema é que as rimas me irão custar o dobro,
e por muito que corra os mercados o que me
propõem está acima das minhas posses, sem recobro.
E quando me vierem pedir o que tenho de pagar,
a quantos por cento o terei de dar? Abro a carteira,
esvazio os bolsos, vou às contas, e tudo vazio: símbolos,
a zero; alegorias, esgotadas; metáforas, nem uma.
A quem recorrer? Que fundo de emergência poética
me irá salvar? Então, no fim, resta-me uma sílaba - o ar -
ao menos com ela ninguém me impedirá de respirar.

Nuno Júdice
Publicado no Jornal de Letras
em 20 de abril de 2011
.

1 comentário:

  1. "(...), resta-me uma sílaba - o ar -
    ao menos com ela ninguém me impedirá de respirar."

    Por enquanto, ou seja, enquanto se não tiver de pagar o ar que se respira. Por este and(ar) já falta pouco, muito pouco.

    Um belo poema.

    Obrigado por partilh(ar).

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