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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Poemas de Cristina Campo (Itália, 1923)


















SINDBAD

O ar de dia para dia se adensa em redor de ti
de dia para dia consuma minhas pálpebras.
O universo cobriu o rosto
sombras dizem-me: é inverno.

Tu no inocente espaço onde se embalam
ilhas negligentes, eu no terror
dos lilases, numa labareda de rolas,
sobre a suave, doméstica estrada da loucura.

Carrega-se cânhamo, azeitonas
mercados e anos... Eu não baixo as pestanas.
Meia-noite virá, o primeiro grito
do silêncio, o tão longo recair

do faisão entre as suas asas.



MONGES JUNTO AOS ÍCONES

Macário o subdiácono, tranças incertas sobre a inculpável nuca.
Roja-se aos pés dos ícones como cachorrinho de ouro.
O igúmeno Isaac, inflexivelmente horizontal a barba,
Deixa por terra a própria vida diante da Mãe tão azul.
Com três pequenos, consternados sinais da cruz, Ireneu
Beija tremendo três lugares da salvífica cena.
Mas o jovem Gregório? Com mãos que nunca foi mais pura
A virgem bétula, circunda como se faz ao rosto mais amado,
Mais inconsolavelmente amado a Divina Verónica;
E o lentíssimo beijo de olhos fechados, que sucede a tão longo olhar
Não é apenas o beijo a um ícone não é apenas beijo a um ícone.


Cristina Campo (1923-1977)
In O passo do adeus
Tradução de José Tolentino Mendonça
Assírio e Alvim

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