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terça-feira, 6 de julho de 2010

Paulo Leminski - Poemas e Biografia



























POEMAS DE PAULO LEMINSKI

ali
ali
se

se alice
ali se visse
quanto alice viu
e não disse

se ali
ali se dissesse
quanta palavra
veio e não desce

ali
bem ali
dentro da alice
só alice
com alice
ali se parece



**

Minha cabeça cortada
Joguei na tua janela
Noite de lua
Janela aberta

Bate na parede
Perdendo dentes
Cai na cama
Pesada de pensamentos

Talvez te assustes
Talvez a contemples
Contra a lua
Buscando a cor de meus olhos

Talvez a uses
Como despertador
Sobre o criado-mudo

Não quero assustar-te
Peço apenas um tratamento condigno
Para essa cabeça súbita
De minha parte


***


não creio
que fosse maior
a dor de dante
que a dor
que este dente
de agora em diante
sente

não creio
que joyce
visse mais numa palavra
mais do que fosse
que nesta pasárgada
ora foi-se

tampouco creio
que mallarmé
visse mais
que esse olho
nesse espelho
agora
nunca
me vê


***

sabendo
que assim dizendo
— poema —
estava te matando
mesmo assim
te disse

sabendo
que assim fazendo
você estava durando
foi duro
mesmo assim
te trouxe

mesmo assim
te fiz
mesmo sabendo que ias
fugaz
ser infeliz
sempre infeliz

mesmo assim
te quis
mesmo sabendo
que ia te querer
ficar querendo
e pedir bis


***

Desculpe, cadeira,
está pisando no meu pé.
Desse jeito, mais parece
esta mesa: nada mais faz
que cansar minha beleza.

Vocês vão ver uma coisa.
Nem porque é de ferro
pode moer meu dedo
este prego, o martelo.

Vocês não têm cabeça.
Não passam de objeto.
Vocês nunca vão saber
quanto dói uma saudade
quando perto vira longe
quanto longe fica perto.

Desculpe, cadeira,
está pisando no meu pé.
Desse jeito, mais parece
esta mesa: nada mais faz
que cansar minha beleza.

Quanto ao resto — até.


***

o velho leon e natália em coyoacán

desta vez não vai ter neve como em petrogrado
aquele dia
o céu vai estar limpo e o sol brilhando
você dormindo e eu sonhando

nem casacos nem cossacos como em petrogrado
aquele dia
apenas você nua e eu como nasci eu dormindo e você sonhando

não vai mais ter multidões gritando como em petrogrado
aquele dia
silêncio nós dois murmúrios azuis
eu e você dormindo e sonhando

nunca mais vai ter um dia como em petrogrado
aquele dia
nada como um dia indo atrás do outro vindo
você e eu sonhando e dormindo


***

um dia
a gente ia ser homero
a obra nada menos que uma ilíada

depois
a barra pesando
dava pra ser aí um rimbaud
um ungaretti um fernando pessoa qualquer
um lorca um éluard um ginsberg

por fim
acabamos o pequeno poeta de província
que sempre fomos
por trás de tantas máscaras
que o tempo tratou como a flores


***

fazia poesia

e a maioria saía
tal a poesia que fazia

fazia poesia

e a poesia que fazia
não é essa
que nos faz alma vazia

fazia poesia

e a poesia que fazia
era outra filosofia

fazia poesia

e a poesia que fazia
tinha tamanho família

fazia poesia

e fez alto
em nossa folia

fazia tanta poesia
ainda vai ter poesia um dia


***

johny? está me ouvindo? sim sim claro tua mãe
e eu perdoamos
já perdoamos eu disse perdoamos isso acontece
claro acontece a
qualquer um eu disse qualquer um é to anyone
do you hear me yes
we forgive you i said your mother your mother
forgives you yes
you do you hear me now whatever it is é claro
tudo perdoado tua
mãe perdoa mãe sempre perdoa tudo eu disse
tudo forgives yes
your mother and i we never never pai sempre
perdoa i forgive you
perdoo perdoo agora vá dormir my poor johny
dormir eu disse já
disse que perdoo tua mãe perdoa agora johny
está me ouvindo johny
está me ouvindo when i say do you hear me yes
johny do you do you do


***

você me amava
disse
a margarida

a margarida
é doce
amarga a vida


***

de som a som
ensino o silêncio
a ser sibilino

de sino em sino
o silêncio ao som
ensino


***

apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme


***

PAPAJOYCEATWORK

(Noite. Joyce começa a escrever)
Madmanam eye! Light gone out!
(Cai no papel)
Mustmakesomething! Reverythming!
(Morde os lábios e gargalha)
A poorirish is a writer mehrlichtsearching,
yesternighteternidades!
(Troveja. Relâmpagos iluminam o quarto. Joyce
prossegue)
Thomasmorrows? Horriver!
Nice and sweet — the speech of England,
damnyou! Dont?
Must destroy it, just like a destroyer would do it
yourself! Como um verme. Yes, I no.
Done to Ireland! What have they done? It will do.
Beforeblacksblanco, we are even, this very evening!
Think is so.
My vengeance will be as big as say a country as big
as say Brazil.
Someday my prince will come. Our prince:
Seabastião!
Arrise, Lewisrockandcarroll!
Waterrestrela, am I a dayer?
Just a wakewriter.


***


PAULO LEMINSKI FILHO, nascido em Curitiba, Paraná, 38 anos atrás (24 de agosto, Virgo). Mestiço de polaco com negro, sempre viveu no Paraná (infância no interior de Santa Catarina).
Publicou: Catatau (prosa experimental), em 1975, Curitiba, ed. do autor. Não Fosse Isso e Era Menos / Não Fosse Tanto e Era Quase e Polonaises (poemas, 1980, Curitiba, ed. do autor). Publicou poemas, com fotos de Jaque Pires, no álbum Quarenta Cliques, Curitiba, 1979, Curitiba, ed. Etcetera.
Compositor, tem músicas gravadas por Caetano Velloso (“Verdura”, LP “Outras Palavras”). Paulinho Boca de Cantor (“Valeu”, LP “Valeu”, e “Se Houver Céu”, LP “Prazer de Viver”). A Cor do Som (“Mudança de Estação”, LP “Mudança de Estação” e “Razão”, LP “Magia Tropical”).
Três parcerias com Moraes Moreira no LP “Coisa Acesa” (“Baile no meu Coração”, “Decote Pronunciado”, “Pernambuco Meu”).
A parceria com Moraes, “Promessas Demais”, foi interpretada por Ney Matogrosso, no LP “Matogrosso”, tema da novela “Paraíso”, da Globo.
É também letrista do Conjunto Blindagem, de Curitiba (sete parcerias com Ivo Júnior, no LP “Blindagem”).
Ex-professor de História e Redação em cursos pré-vestibulares, é dire¬tor de criação e redator de publicidade. Colaborador do Folhetim da Folha de S. Paulo, resenha livros de poesia na Veja.
Poemas e textos publicados em inúmeros órgãos (Corpo Estranho, Muda, Código, Raposa, etc.) de Curitiba, São Paulo, Rio e Bahia.
Teve seus primeiros poemas publicados na revista Invenção, em 1964, então, porta-voz da poesia concreta paulista.
Faixa-preta e professor de judô, vive em Curitiba com a poetisa Alice Ruiz, com a qual tem duas filhas.
Publicou ainda pela Brasiliense Cruz e Souza (1983), da Coleção Encanto Radical.



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