CORPOS NÃO IDENTIFICADOS
amam-se os nossos corpos mortos.
amam-se num amor subterrâneo: os nossos corpos mortos.
amam-se os nossos corpos mortos num muro transparente
por onde vejo ainda: os nossos corpos mortos.
amam-se na ressonância do amanhecer que desperta
leve e docemente sobre a vitamina F que os seus cabelos
conservam: os nossos corpos mortos.
conservam: os nossos corpos mortos.
amam-se na respiração limpa dando caminho a uma
contemplação de cristais, a uma porta que ora:
os nossos corpos mortos.
os nossos corpos mortos.
amam-se no sonambulismo do primeiro acto, próximo
de uma prova contrária à sede que a nuvem rejeita:
os nossos corpos mortos.
amam-se numa súbita vontade que crucificou
a metamorfose do dia de hoje: os nossos corpos mortos.
amam a emulação palpável dos presentes na
cerimónia fúnebre: os nossos corpos mortos.
cerimónia fúnebre: os nossos corpos mortos.
porque só depois do amor, descansa a morte.
Sylvia Beirute
inédito
Que belo poema, Sylvia. Este verso final... Um achado. beijo.
ResponderEliminarLindo mesmo.
ResponderEliminarSylvia querida, que beleza de poema! "porque só depois do amor, descansa a morte.", uau! isso é demais! abraço.
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