O PARADOXO DO ORNITORRINCO
Há dias ouvi José Pacheco Pereira, deputado e conhecido autor do blogue Abrupto, referir-se àquilo que o próprio chamava de "desrespeito ao princípio da presunção de inocência". E dizia a este propósito o referido senhor que os jornalistas portugueses, perante os indícios da existência de um crime, se esqueciam frequentemente de usar o advérbio "alegadamente" no tratamento da notícia, situação que contribuía para o julgamento público dos suspeitos.
Não discordo, de todo, do que disse Pacheco Pereira, todavia parece-me uma ligeireza reduzir-se este assunto ao dito vocábulo. Porque todos nós vemos notícias todos os dias, notícias escritas com todos os "alegadamentes" do mundo e que nem por isso deixam de formar e condicionar a opinião das pessoas, indo muito para além dos factos tal qual devem ser relatados.
Parece-me que Pacheco Pereira saberá disto muito melhor do que eu, mas provavelmente, como político experiente que é e sujeito inteligente, não se quis meter com um peso pesado da democracia, aquilo que é polémico, nada mais nada menos do que a liberdade de expressão dos órgãos de comunicação social, coisa muito sensível, portanto.
Talvez aqui faltassem umas regrazinhas e uma concretização do estatuto do jornalista, ou uma outra acção da alta autoridade para a comunicação social. Alegadamente responder-me-ia José Pacheco Pereira que é político. De certeza, digo eu que posso dizer o que me apetece e até escrevo poesia.
Sylvia Beirute
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