ANTÍTESE
prefiro a voz quando incompleta, quando
parece esvaziar, e não confirma horas.
há nesse esvaziamento muito de acessório de estilo,
muito de virtude transformadora,
muito de casal feliz esperando pacientemente
o amor.
e é necessariamente leve o resultado,
é um passado que se dissolve e se enche
de moradas póstumas,
de respeitáveis silêncios que em si concentram
todos os privilégios da solidão,
todas as crianças de força
que habitam este mundo com citações francesas
aos olhos gordos.
a memória na voz é a coisa mais deliciosa do mundo,
a memória que se parece nivelar
por aquelas cores
que continuamente se clareiam e contorcem
em direcção a um fim ou a um começo
que não permanece.
o que sei: o que sei é que a minha voz emoldurada
na poesia perfurante das possibilidades
parece compreender a vida que nunca lhe alcançará
a superação, o seu espírito de ser muito mais,
muito mais que a sua forma.
Sylvia Beirute
inédito
.
muito mais
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