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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A CONSTRUÇÃO DO POEMA - REFLEXÃO

























A CONSTRUÇÃO DO POEMA

Sempre gostei de métodos, de processos, e de exercícios que os põem em prática. Não me parece, contudo, que a boa literatura viva à custa disso, embora seja inegável que tais realidades são desbloqueadoras da inibição e propiciadoras daquilo a que chamo de "momentos literários". Vem esta conversa a propósito do desafio que o poeta Gavine Rubro lançou a Luís Ene, desafio esse que se resumia à construção de um poema "a dois teclados", como salienta este último. Desconheço se os dois acertaram algum tipo rígido de regras ou se, pelo contrário, se instituiu algum modo de anarquia na construção do corpo poético.
Em todo o caso, pareceu-me interessante a publicação no Ene Coisas do poema em construção, dividido por partes devidamente numeradas. Salvo melhor opinião, parece-me que o poema faz mais sentido publicado dessa forma do que na sua forma final. Desde logo, porque em termos formais aparece como novidade, sendo que a repetição dos primeiros versos no número seguinte garantem-lhe força e um ritmo puro. Depois, porque, afinal, um poema não é o que o leitor lê, e este poema aparece como revelação do seu próprio esqueleto e da sua ordem interna, o que é algo raro.
Costumo dizer que a poesia de qualidade é aquela que conjuga imperfeição com excelência. Gostei da imperfeição que as falsas pausas geradas pela repetição dos versos vieram ocasionar, para além de que o leitor garante a experiência de ler os mesmos versos no mesmo poema, em momentos diversos (e quem sabe num tom cambiante), dando esse plus ao texto. Gostei do que li.

1 comentário:

  1. Muito bacana. Suas postagens são sempre muito boas, parabéns!

    Um abraço,
    Geraldo.

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