DIA DOS NAMORADOS
o amor
passou-se no tempo em que não havia medo.
não havia paredes subidas.
as manhãs eram remotas como rosas.
os ontens uma mitologia condigna.
a pátria era tão labiríntica quanto uma lágrima.
tão imprevisível quanto o ofício de um deus.
o amor passou-se no tempo em que ainda não tinha nome,
em que os segundos eram uma espécie de sangue,
e a tarde podia ser uma só palavra
na órbita de uma outra palavra.
o amor passou-se neste poema para pessoas sós,
passou-se como mera reprodução de um tempo
em que não havia corpos, logocorações distantes.
mas ainda assim o amor existe: mesmo sendo
um ontem, mesmo sendo uma lágrima,
mesmo sendo uma rosa esquecida
num quarto azul.
Sylvia Beirute
inédito
.
"Sem amor, eu nada seria..." (I Coríntios 3)
ResponderEliminarLindíssimo!
O amor existe sim. Um abraço.
ResponderEliminarEm parcas e simples palavras, quero deixar registo que gostei imenso deste poema. Em especial da noção de "passou-se no tempo em que não havia medo", e depois, com as "paredes subidas", "ainda assim o amor existe".
ResponderEliminarLindo poema! *-* Deixou meu coração a palpitar!
ResponderEliminarLindo, Sylvia!
ResponderEliminarem labirinto de uma lágrima
ResponderEliminardispenso as redes de despidas das idas.
quero o lapso do ofício de um deus
a mergulhar num lago de rima.
gosto...
Vejo planos neste poema que me conduzem à impressões muito tênues, sorrateiras... Assim como o amor o deve ser, mas devo admitir que não me sinto em existência necessária a poder assegurar a mim mesmo o que o amor seria. Talvez eu conheça a paixão, mas isso é outra história. Poema muito especial, sem dúvida. Eu quero te dizer que desejo colocar um link ou transcrevê-lo em meu blog. Beijos, Sylvia.
ResponderEliminarE tu Sylvia, amas?
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