Valzhyna Mort, poetisa e tradutora, nasceu em 1981, em Minsk, Biolorússia, e tem publicado regularmente em revistas de literatura. Vejo em alguma da sua poesia o que procuro na minha: a extrapolação das letras, a representação do mundo numa só perspectiva mas suficientemente audaz e ambiciosa para se fazer entender. Achei delicioso este Fosse Eu Bola Numerada. Porque é a imposição do espaço condicionado perante uma existência isolada, a sobrevivência do ser na hipotética janela aberta para uma outra realidade. É a poesia enquanto entrega total na mutação do quotidiano, por vezes no seu lado mais marginal. Valzhyna Mort vive nos Estados Unidos da América.
FOSSE EU BOLA NUMERADA
fosse eu bola numerada
na roda do totoloto
fazendo saltos mortais
e dançando
um rápido fox-trot
que ao anúncio de saída
atenção à bola tal
nunca em toda a eternidade
vai sair a minha bola.
e fujo ali da fidelidade
essa hemorróida persistente
de quem insiste no meu número
para escapar da miséria.
e segue as bolas pelo vidro
como à nevasca branquinha
da janela.
e enquanto gira a minha tômbola
enquanto gira sem parar
apetece-me até ao marasmo
tornar-me a minha irmã de chumbo.
e expelir-me da roda
vestida de prata –
livre!
e alguém fascinado
esconde-me no coração
e veste-me por cima de vermelho.
Valzhyna Mort
Tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra
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Rendo-me à "beleza" do poema, gostei da apresentação, interessante a "identificação", tudo! Boas Festas!!
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