Diz-me a poetisa brasileira Carolina Caetano que leu o meu poema anterior, C'oração, como uma espécie de diálogo com este seu. Achei que seria interessante publicá-lo aqui.
DO QUE RECOLHE O VÔO
A Iara Fernandes, Guru Martins e ao amigo Hermano
Só o amor não está morto
espanta-me
todos os corpos são este
e outros objetos que não estão mortos
todos os tomates serem o tomate
e a circunferência insistente e lisa das coisas
de quase todas as coisas
as coisas do teu filho respiram
já podes quase vê-lo
a alcofa é quente - o teu corpo
o que resta parece ser aquilo que ainda está quente
a grafia do há-pouco-atrás
todos os corpos serem este
espanta-me
estas horas que o carregam
porque estão estas horas mornas e largas e mansas
estas horas que nos carregam
ainda nos amarmos e agora nos amarmos
e este abraço pelo resto da vida
que há em nossas mãos que nunca existiram?
todos os corpos serem este
morreu-nos tudo
ou assim já estávamos, as mãos
que não existem
um vôo cresce e explode aos céus
não há ruídos
um vôo cresce e explode pela boca
não há horas
o amor e o há-pouco-atrás
ainda é morno estar vivo
e a impressão de ser uma cortina vagarosa
a vida precisar da vida precisar da vida
e o vôo não ter objetos
porque os objetos respiram
somos nós uma alcofa
ainda quente
ainda grande
o teu filho respira, o teu filho respira.
Carolina Caetano
lido no blogue da autora
.
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