Subscribe

RSS Feed (xml)

Powered By

Skin Design:
Free Blogger Skins

Powered by Blogger

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

SAUDADE DE ÁGUA - MEMÓRIAS DE FARO - LUÍS ENE (LIVRO)
























Uma cidade pode conhecer-se de diversas formas. Luís Ene, no seu novíssimo livro Saudade de Água - Memórias de Faro, tem uma proposta que me parece, à primeira vista, interessante. Trata-se do recorte de alguns fragmentos da cidade de Faro na forma de micro-histórias (por vezes apenas micro-descrições ou simples exposições de um estado de alma). É a reinscrição de um lugar pela inserção cirúrgica de vida humana nele, com as suas dinâmicas, os seus devaneios, os seus sonhos. Há alguma poesia nestes textos, combinada com alguma filosofia, sendo que tudo isto é filtrado pela afirmação de um eu que deambula, sempre à procura de um outro.

A obra será apresentada hoje à noite no Draculea Café Bar.


Excertos:

A estação dos caminhos-de-ferro

A estação dos caminhos-de-ferro, assim como as saídas de Faro, eram pontos de fuga no desenho emocional da cidade. As saídas de Faro, sobretudo a saída para Lisboa, nunca eram para nós as entradas de Faro. Também à estação se ia para sair de Faro, para fugir de Faro e não mais voltar. A hora marcada no sólido relógio verde da gare era sempre a hora da partida anunciada.

*

O ponto preciso

Entre a tasca dos viveiristas e mariscadores e o quartel dos Bombeiros Voluntários, entre a vergonha e a alegria do encontro e da separação, é nesse ponto preciso que estamos e sempre estaremos. Entre o que foi e o que podia ter sido.

*

Salvação

Sentado na esplanada, no fim de uma tarde de Verão, aborrecia-me de verde quando avistei, do outro lado da rua, uma pequena árvore. Parecia uma noiva ruborizada, inocente e maliciosa, incapaz de esconder a sua alegria. Quis escrever sobre ela (ou sobre o que senti ao vê-la), mas desisti depois de várias tentativas. Hoje lembrei-me dela, mas logo percebi que continuo a não ser capaz de revelar o seu (meu) mistério. Só não destruí este texto porque me ocorreu, enquanto o escrevia que, na sua impossibilidade, ele diz afinal a razão porque escrevo.


Luís Ene
em Saudade de Água - Memórias de Faro
Edição: Cão Danado
.

Sem comentários:

Enviar um comentário