EXTRAPOESIA
Hoje ao ver a palavra "extraconjugal", detive-me no prefixo "extra". Na realidade recorro muito aos prefixos, especialmente na minha poesia, porque por vezes são a única maneira que encontro de expressar realidades mistas e combinatórias. Creio que o uso destes prefixos, alguns para designarem contrários, negações, ou algo a meio caminho, vêm abonar a favor do lado sucinto da criação poética, com consequências óbvias ao nível do ritmo e leitura. A propósito, no outro dia vi alguém falar em Neopoesia, o que remete para a poesia com tendências contemporâneas, alguma, como se sabe, com aspectos ligados à prosa, fruto de algum lado narrativo e não só. Creio que um dia, alguém com mais coragem introduzirá o termo Extrapoesia, para designar aquilo que timidamente hoje se chama (por poucos, é certo) de neopoesia. Quando isso acontecer, e depois de algum estudo e recolha de aspectos marcantes deste instituto, traçar-se-á uma linha longitudinal separando realidades, menorizando-se a importância da forma, exactamente como eu entendo que deve ser. Falar-se em extrapoesia, no sentido de se assinalar o que está fora da poesia, não ofenderá, a meu ver, e talvez numa etapa mais longínqua, os extrapoetas. Precisamente porque estamos num campo muito alargado de acção e creio que quem entra numa realidade de excepção tem um margem de manobra muito grande, liberdade que só homenageia uma arte. No fundo, esta extrapoesia tem a forma do poema, mas aspectos nucleares de outras realidades, não obstante alguns pontos de contacto com a poesia de útero mais clássico.
Sylvia Beirute
Sem comentários:
Enviar um comentário